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Destaque: It´s A Free World, filme de Ken Loach
O filme de encerramento do IndieLisboa é "It´s A Free World" (É Um Mundo Livre), de Ken Loach, que retrata a degradação do sistema social europeu, não apenas para os que chegam ao continente como imigrantes, mas também para os que já cá vivem.
Exibição: Dia 3 de Maio, sábado, 21H30, Cinema São Jorge 1
Angie (KIerston Wareing), mãe de um filho na puberdade e precária, decide tornar-se empresária depois de ser despedida pela nona vez.
Mesmo sem uma educação formal ou académica, ela tem energia, perspicácia e ambição. Como a empresa onde trabalhava apostou na contratação temporária de imigrantes, Angie convence uma amiga (Juliet Ellis) que, mesmo com formação académica superior, trabalha num call-center, a criar uma micro-empresa dedicada ao mesmo fim.
Seguindo a lógica do sistema, passam a aproveitar-se das leis - ou da sua ausência - para ganharem a vida, afinal, era disso que ela entendia devido à experiência no trabalho anterior.
Rose fica assustada com a amiga, mesmo ciente que, finalmente, estão a ganhar o tão sonhado dinheiro às custas desses imigrantes. Rose acredita que tudo tem um limite. Mas Angie não.
Este filme retrata a degradação do sistema social europeu, não apenas para os que chegam ao continente, mas também para os que já lá vivem.
Foi inspirado na imigração e em como as pessoas cruzam meio mundo para depois serem exploradas.
"A mão-de-obra barata é o coração da economia britânica e o governo precisa subverter sua própria legislação, ou seja, assegurar-se de que o salário mínimo não será pago, pois se fosse, o preço da comida e da roupa aumentaria, a inflação subiria e a economia ficaria desequilibrada...", diz Ken Loach
O cineasta critica o que considera uma hipocrisia: as duas vertentes da direita britânica - uma que diz é preciso abrir as fronteiras, porque os imigrantes são trabalhadores baratos; outra que diz que é preciso expulsá-los, pois ocupam postos de trabalho e leitos nos hospitais.
Excertos do filme
http://www.youtube.com/watch?v=luEBvcaF7Rg&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=qMZ0TJn3zs4&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=Q0Mhtxr6cOQ&feature=related
- Página online -
http://www.diaphana.fr/fiche.php?pkfilms=163
Ken Loach
"Talvez se ousarmos contar a verdade sobre o passado, talvez possamos contar a verdade sobre o presente"
Ken Loach nasceu a 17 de Junho de 1936 em Nuneaton, Warwickshire no Reino Unido. Desde cedo tornou-se militante trotskista. Foi aos 25 anos, e enquanto estudava Direito em Oxford, que teve o primeiro contacto com as artes cénicas, actuando no grupo de teatro da universidade.
Após ter acabado a sua formação, começa a trabalhar no Teatro de Northampton Repertory como assistente de encenação; mas o interesse pelo mundo audiovisual leva-o à BBC, onde começa a trabalhar com o produtor Tony Garnett na realização de uma série de docudramas: a "Wednesday Play". Um dos episódios é o impactante "Cathy Come Home" (1966), que denuncia a situação dos sem-abrigo diante da inflexibilidade das políticas inglesas, revelando desde logo a sua tendência social e realista que iria marcar as suas produções audiovisuais.
Em 1968, no auge da sua carreira televisiva, Ken Loach faz a sua estreia no cinema com "Poor Cow" e logo depois, "Kes", em 1969 (hoje aclamado como um dos melhores filmes feitos no Reino Unido). Nos anos 80, em plena era do thatcherismo, Ken Loach enfrenta uma forte oposição. O conteúdo dos seus trabalhos foi boicotado através de uma censura que passava pela má distribuição dos seus filmes, da dificuldade de financiamento e do pouco "interesse" que a televisão tinha em passar filmes com tais conteúdos.
Ken Loach decide então apostar nos documentários, numa tentativa de passar mensagens de forma mais directa.
Depois de acumular tantos reveses, a década de 90 foi uma reviravolta na carreira do cineasta, que passou a ser reconhecido como um dos grandes directores europeus. O sucesso do thriller político "Agenda Secreta" abriu as portas para outros filmes, como "Terra e Liberdade", "Meu Nome é Joe" e "Pão e Rosas".
Ken Loach concorreu a diversos prémios e tornou-se um habitué do festival de Cannes, onde participou na Competição Oficial por cinco vezes e onde conquistou a Palma de Ouro em 2006, com "The Wind that Shakes the Barley". Em entrevistas realizadas sobre o filme, o cineasta afirmou que a sua longa metragem, passada na Irlanda em 1920, em plena guerra de independência, evoca temas de hoje, como a situação no Iraque.
"Sempre há, nalgum país, um exército de ocupação, ao qual a população resiste. Não preciso esclarecer em que lugar do mundo o Reino Unido mantém hoje, ilegalmente, um exército de ocupação", declarou o cineasta numa conferência de imprensa. "A guerra do Iraque foi ilegítima, contrária às convenções de Genebra e à Carta das Nações Unidas, além de baseada em mentiras. É indefensável", acrescentou.
A respeito do império colonial britânico, Loach afirmou que é necessário romper com a história oficial e denunciar as atrocidades cometidas na Índia ou no Quênia até o final dos anos 50. "Pessoas foram enforcadas, mutiladas e existiram campos piores que Guantánamo".
Reconhecido por filmes com um forte cunho político e social, muitos consideram Ken Loach um herdeiro do designado realismo social, do apelidado cinema livre e realista europeu que aborda os temas sem conformismos sociais, com uma forte crítica à sociedade e particularmente à burguesia e ao neoliberalismo capitalista. Tendencialmente retrata os anónimos da "classe trabalhadora" revelando as suas dificuldades, problemas e condições de vida, retratos com a intenção de promover uma melhor consciencialização da sociedade contemporânea.
Além de um universo temático demarcado, Loach também é dono de um estilo formal próprio, utilizado para potencializar o cunho realista de seus filmes. O cineasta recorre a técnicas do cinema-verdade para transmitir uma sensação de plausibilidade, como a câmara na mão, a granulação da imagem, a preferência por filmar em locais exteriores e não em estúdios, o uso de actores não-profissionais, e a utilização de dialectos "autênticos" numa estética "documental"
Filmografia
2007 - Mundo livre (It's a free world...)
2007 - Cada um com seu cinema (Chacun son cinéma ou Ce petit coup au coeur quand la lumière s'éteint et que le film commence)
2006 - Vento da liberdade (The wind that shakes the barley)
2005 - Ticket
2004 - Apenas um beijo (Fond kiss..., Ae)
2002 - 11 de setembro (11'09''01)
2002 - Sweet sixteen
2001 - Navigators, The
2000 - Pão e rosas (Bread and roses)
1998 - Meu nome é Joe (My name is Joe)
1997 - A chama (Flickering game, The)
1996 - A canção de Carla (Carla's song)
1995 - Terra e liberdade (Land and freedom)
1994 - Ladybird, Ladybird - Sombras de um passado (Ladybird ladybird)
1993 - Chuva de pedras (Raining stones)
1990 - Riff-Raff (Riff-Raff)
1990 - Agenda secreta (Hidden agenda)
1986 - Fatherland
1984 - De que lado você está? (Which side are you on?)
1981 - Olhares e sorrisos (Looks and smiles)
1980 - O vigia (Gamekeeper, The)
1979 - Black jack
1977 - Price of coal, The (TV)
1971 - After a lifetime (TV)
1971 - Save the Children Fund Film, The
1971 - Vida em família (Family life)
1971 - Rank and the file, The (TV)
1969 - Kes (Kes)
1969 - Big flame, The (TV)
1968 - Golden vision, The (TV)
1967 - A lágrima secreta (Poor cow)
1967 - In two minds (TV) (curta-metragem)
1965 - Cathy volta para casa (Cathy come home) (TV) (curta-metragem)
1965 - Coming out party (TV)
1965 - End of Arthur's marriage, The (TV)
1965 - Up the junction (TV) (curta-metragem)
1964 - Diary of a young man (TV)
Prémios
- Recebeu uma nomeação no BAFTA para Melhor Realizador, com "Kes" (1969).
- Recebeu uma nomeação no BAFTA para Melhor Argumento, com"Kes" (1969).
- Recebeu nomeação no BAFTA, na categoria de Melhor Filme Britânico, por "Raining Stones" (1993), "Terra e Liberdade" (1995), "A Canção de Carla" (1996) e "Meu Nome é Joe" (1998).
- Recebeu 2 nomeações para Prémio César, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, por "Chuva de Pedras" (1993) e "Terra e Liberdade" (1995). Venceu em 1995.
- Recebeu 2 nomeações no Festival César, na categoria de Melhor Filme da União Europeia, por "Sweet Sixteen" (2002) e "11 de Setembro" (2002).
- Recebeu uma nomeação no Independent Spirit Awards, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, por "Ladybird, Ladybird - Sombras de um Passado" (1994).
- Recebeu uma nomeação no European Film Awards para Melhor Realizador, por "The Wind that Shakes the Barley" (2006).
- Ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes, com "The Wind that Shakes the Barley" (2006).
- Ganhou 3 vezes o Prémio do Júri, no Festival de Cannes, com "Agenda Secreta" (1990), "Chuva de Pedras" (1993) e "Terra e Liberdade" (1995).
- Ganhou 3 vezes o Prémio FIPRESCI, no Festival de Cannes, com "Black Jack" (1979), "Riff-Raff" (1990) e "Terra e Liberdade" (1995).
- Ganhou um Leão de Ouro em 1994, no Festival de Veneza, em homenagem à sua carreira no cinema.
- Ganhou o prémio de Melhor Curta-Metragem, no Festival de Veneza, por "11 de Setembro" (2002).
- Ganhou o Prémio do Júri, no Festival de Berlim, por "Ladybird, Ladybird - Sombras de um Passado" (1994).
- Ganhou o Prémio OCIC, no Festival de Berlim, por "De Que Lado Você Está?" (1984).
- Ganhou o Prémio Bodil de Melhor Filme Não-Americano, por "Meu Nome é Joe" (1998).
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