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O Irão e o nuclear
No dia 23 de Março, as forças iranianas capturaram 15 fuzileiros navais britânicos no canal do Shatt al-Arab, na entrada do Golfo Pérsico, provocando uma crise diplomática num momento em que o Conselho de Segurança da ONU se preparava para avaliar novas sanções contra o Irão, devido à sua decisão de manter o programa de enriquecimento de urânio. Teerão afirmou que os fuzileiros confessaram ter violado as suas águas territoriais, mas o governo britânico afirmava que os seus marines estavam em águas territoriais do Iraque.
Dois dias depois, o Conselho de Segurança da ONU aprovou novas sanções económicas e comerciais ao Irão, numa resolução adoptada por unanimidade dos seus 15 membros. O ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Manouchehr Mottaki, denunciou que a resolução era uma "acção injustificável" contra um programa nuclear pacífico.
Depois de um braço de ferro entre Londres e Teerão, os fuzileiros foram libertados no dia 5, afirmando, à saída do aeroporto de Teerão, terem sido bem tratados e pretenderem voltar para visitar o país. A libertação coincidiu com o anúncio, por parte dos EUA, de que iria permitir a visita a cinco funcionários iranianos detidos em Janeiro no Curdistão. Também relacionada com a libertação estaria a libertação, do segundo secretário da embaixada iraniana em Bagdad, que fora sequestrado por homens com o uniforme do exército iraquiano.
Irão no clube nuclear
A 10 de Abril, o Irão anunciou ter dado início à produção de combustível nuclear "em escala industrial". O anúncio foi feito pelo presidente Mahmud Ahmadinejad, na central nuclear de Natanz, a 300 quilómetros ao sul de Teerão, que "anunciou orgulhosamente" que o seu país passava a integrar o clube restrito dos que produzem o combustível.
O anúncio fez subir o tom por parte da Casa Branca, acusando Teerão de ter uma agenda militar nuclear e de estar a correr para fabricar uma bomba atómica.
Assim, em Outubro, a Casa Branca anunciou um novo conjunto de sanções unilaterais contra o Irão, o maior conjunto de medidas punitivas contra Teerão desde a ocupação da embaixada americana por guardas revolucionários em 1979. As medidas incluíram a declaração da Guarda Revolucionária como uma organização proliferadora de armas de destruição em massa e a Força Quds como organização de apoio do terrorismo.
O objectivo alegado das sanções era isolar financeiramente uma parte dos militares iranianos e quem tenha negócios com eles. A Guarda Revolucionária é o mais poderoso corpo militar do Irão, com 125 mil efectivos.
Nenhuma prova de bomba
Mas quatro dias depois, Mohamed el Baradei, director da Agência Internacional de Energia Atómica AIEA), declarou não ter provas de que o Irão queria construir uma bomba atómica.
"Vimos, no Irão, substâncias nucleares que possam transformar-se rapidamente em armas? Não. Vimos um programa activo de militarização nuclear? Não", disse, numa entrevista à cadeia de televisão norte-americana CNN.
Bush, no entanto, não se desarmava e afirmava ainda em Outubro que um Irão armado de bombas nucleares poderia conduzir o mundo à Terceira Guerra Mundial.
A 3 de Dezembro, um relatório da comunidade de informações dos EUA contradisse Bush, afirmando: "Não sabemos se (o Irão) tem actualmente a intenção de desenvolver armas nucleares" O relatório afirmava que Teerão tinha suspendido o seu programa de armas nucleares em 2003.
As National Intelligence Estimates (NIEs) são produzidas pelo National Intelligence Council (Conselho Nacional de Informações) e expressam as avaliações coordenadas da comunidade de informações dos EUA, composta por 16 agências de informações. São estimativas (estimates) que representam o que os analistas de informações pensam que será o curso futuro dos acontecimentos.
Apesar de Bush dizer que o relatório não mudava nada e que continuava convencido de que o Irão constitui um perigo, as expectativas de um ataque norte-americano ao Irão, que pairaram durante todo o ano, baixaram consideravelmente no seu final.
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