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O futuro tem data marcada

Desta vez, a única proposta efectiva de governo independente mora à esquerda.

Mergulhámos numa crise, providenciaram-se uns anestésicos, de sua marca PEC, e dormiu-se. No último ano a receita foi aplicada por quatro vezes. À terceira seria de vez, mas foi a quarta que permitiu perceber que o anestésico não seria talvez o melhor remédio e que a receita era, afinal, parte da doença. O problema foi a consequência dessa constatação, e acabámos por acordar num cenário de chantagem social: "não havia mesmo alternativa, tínhamos de pedir 'ajuda' externa e ficar dependentes das medidas que uns senhores ainda nos hão-de dizer quais são".

Ao contrário do que tem sido vendido, nada nesta história é escrito de fatalidade, mas antes de intenção. A escolha deveria ter sido deixada ao povo e nunca antecipada. Os senhores de pasta preta foram chamados e ditarão o nosso futuro três semanas antes de irmos a eleições, assim ficou escrito. Entrámos no reino de um protectorado com o apoio de três partidos: PS, PSD e CDS. Mas, como sempre, há um "mas" nada despiciendo nesta história, de seu nome eleições.

Se formos pelo caminho do protectorado dos senhores de pasta preta com o aval do "tripartido", o futuro já começou e "nada poderemos fazer para o alterar". Se escolhermos a possibilidade de optar contra a fatalidade, então a data marcada para mudar o futuro é mesmo 5 de Junho.

A frase "nada será como dantes" tem aqui um significado muito próprio. Aceitaremos as condições que nos forem impostas ou lutaremos para que o "inevitável" tenha que ser revisto? No dia 5 de Junho é isto que vai estar em causa. Pela primeira vez, os três partidos decidiram concorrer a eleições com um programa comum que vem do frio. PS, PSD e CDS aplicarão o programa que Bruxelas e o FMI definirem para o país. Os que sempre se auto-proclamaram como integrantes do "arco da governação" e que nos governaram nas últimas décadas, serão, a partir de agora, e se o povo assim o quiser, governantes por procuração.

Desta vez, a única proposta efectiva de governo independente mora à esquerda. Veja-se o caso da Islândia: na bancarrota, um governo chamou o FMI. Vieram em seguida eleições, o povo escolheu e formou-se um governo de coligação mais à esquerda. Tudo começou a mudar a partir daí. O povo recusou em referendo a chantagem de governos tão poderosos como o britânico e o holandês. Por extraordinário que vos pareça, dizem-me que sim, que valeu a pena.

Sobre o/a autor(a)

Eurodeputada, dirigente do Bloco de Esquerda, socióloga.
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