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Mobilizações na Catalunha contra Alta Tensão já duram há três anos
A polémica construção duma linha de Muito Alta Tensão (MAT) entre o sul de França e a localidade de Bascanó (Girona) tem gerado um dos movimentos de oposição social mais importante dos últimos anos na Catalunha. Desde que se anunciou a construção, milhares de pessoas foram para a rua, dezenas de vezes, para contestar este projecto, que conta com o apoio da classe política e do empresariado catalão. Três anos depois do início dos protestos, a Plataforma "Não à MAT" confia em parar um infra-estrutura de alto impacto ambiental e para a qual, asseguram, existem alternativas mais sustentáveis.
Artigo de Miguel Ángel Lucas, jornalista do Diagonal, 17/10/2007. Tradução de Adriana Lopera. Veja também uma fotogaleria dos protestos na Catalunha
Duzentos kuilómetros. Este é aproximadamente o percurso da linha de interconexão energética entre o município de Bascanó, em Gerona, e a localidade francesa de Baixàs, que há anos a companhia Rede Eléctrica Espanhola tenta construir. Mas não está a ser fácil.
Perto de 60 localidades de Gerona afectadas pelo projecto uniram-se na Associação de Municípios contra a linha de Muito Alta Tensão (AMMAT). E há três anos, dezenas de colectivos de diferentes esferas políticas lutam contra a linha através da Plataforma "Não à MAT".
Com esta mensagem saíram à rua em dezenas de ocasiões. Realizaram cortes de estradas onde se estavam a iniciar as obras. Abriram uma acção judicial contra os cabos de muito alta tensão. Também realizaram acampamentos, viajaram pelas localidades afectadas para informar sobre os efeitos das linhas e, até o momento, travaram a sua instalação. Xavier Llorente, um dos porta-vozes da plataforma, resume estes anos: "Se olharmos para trás e vermos tudo o que fizemos, somos os primeiros a surpreender-nos".
Os defensores da instalação, desde a Generalitat [Governo Autonómico da Catalunha] até às companhias implicadas, defendem que a linha é simplesmente "necessária". E apontam três motivos: as exigências de potência para o comboio de alta velocidade (AVE), as carências energéticas nas localidades de Gerona e a segurança que daria uma rede com ligação à França.
O fundo e as formas
Nos municípios de Gerona, no entanto, estas explicações não convencem. Llorente, da Plataforma "Não à MAT", diz que existem propostas alternativas: "A primeira coisa que se deve fazer é um estudo das necessidades energéticas, de forma qualificada e imparcial. E depois que sejam vistas diferentes fontes de energia e que sejam as pessoas a decidir". De momento não se tem feito desta forma. Por isso, Llorente afirma que a oposição deve-se "a questões de fundo e de forma"
As primeiras são fáceis de entender, mais ainda quando o grosso da plataforma é composto por colectivos ecologistas. "Opomo-nos porque supõe destruir o território. O interesse paisagístico, cultural e histórico ver-se-á afectado nos lugares em que a linha passar" assinala Llorente, acrescentando que "cada vez há mais estudos que abalam o impacto para a saúde da exposição a campos electromagnéticos".
Ocultação de dados
No entanto, para a plataforma tem sido ainda mais chocante "o obscurantismo" promovido para levar avante o projecto. A plataforma contactou com uma companhia italiana para que se fizesse um estudo sobre as necessidades de fornecimento; mas a Endesa e a Rede Eléctrica negaram-se a fornecer dados. Os encarregados do estudo recorreram então à Secretaria Catalã do Ambiente e ao Ministério de Indústria. Também não deu em nada. "Disseram-nos que eles não tinham essa informação, uma pessoa questiona-se como se pode planificar o futuro energético da Catalunha se a Secretaria do Ambiente encarregada de o fazer não tem dados"
Em qualquer caso, entre as companhias beneficiárias e os grupos ambientalistas, os responsáveis catalães situam-se visivelmente mais próximos das primeiras. O caso mais ilustrativo desta sintonia viu-se no passado mês de Abril com a nomeação do actual director de energia da Generalitat, Agustí Mauré, que até então era director técnico da Rede Eléctrica. As tentativas de levar a cabo a instalação chegaram a adoptar formas toscas. Assim o denuncia Pascual Aguilar, também membro da Plataforma contra a MAT, que critica como "sem ter avisado as Câmaras Municipais, a Rede Eléctrica começou as primeiras prospecções".
Mesmo assim, de imediato produziu-se uma reacção dos vizinhos."Cortou-se a estrada que conectava com a zona e os vizinhos taparam os buracos". E assim aconteceu várias vezes. A interligação eléctrica teve um moratória de dez anos, entre outros motivos, pela forte oposição social. Agora, segunda a Plataforma, a rede Eléctrica deverá continuar à espera.
Alternativas: geração distribuída
Segundo Pascual Aguilar, a luta contra as linhas de alta tensão não só supõe a defesa do território, mas também a aposta em modelos energéticos alternativos. Na sua opinião, o projecto de interligação responde a uma estratégia da UE para fortalecer um modelo de grandes companhias com o controlo sobre grande zonas do território. Contra isto apostam na geração distribuída: isto é, pequenos geradores de energia, através de fontes renováveis como placas fotovoltaicas, e perto do local de consumo, de forma mais limpa e com menor dependência dos "campeões europeus".
Nem aqui nem em nenhum lugar
Os membros da Plataforma "Não à MAT" dizem ter tido muita sorte pela colaboração de um outro colectivo muito activo: os opositores franceses de "Non à la THT" (três haute tension), com quem partilham planos e actividades em ambos os lados da fronteira. Além disso, os planos para a construção da linha noutros pontos da península confrontam-se com a contestação social. Em Euskadi, a forte oposição levou, há décadas, a que se descartasse a ligação basca. Actualmente, no País Valenciano e em Aragão também se produzem iniciativas similares.
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