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Profanador do cemitério judaico participou no espancamento a seguir à vigília da “matança de Lisboa”
A notícia tem um mês e chocou o país: dois skinheads neo-nazis, membros da Frente Nacional, entraram à noite no cemitério judaico de Lisboa e deixaram um rasto de destruição, profanando 17 campas e pintando graffitis com suásticas e outra simbologia nazi na pedra dos túmulos. Chegaram mesmo a defecar em duas campas antes de serem apanhados em flagrante pela PSP, alertada por um transeunte que estranhou o barulho vindo do cemitério.
A imprensa deu conta do envolvimento de um desses skinheads, Carlos Seabra, (24 anos, conhecido por “lobo nazi”) no mega-processo de discriminação racial, em que é arguido. O outro profanador do cemitério, João Dourado, tem apenas 16 anos e a polícia levantou a hipótese de se tratar de um “acto de iniciação”. No entanto, e apesar da idade, este skinhead já foi investigado este ano por agressões e constituído arguido, juntamente com o actual responsável pelo PNR em Lisboa, Pedro Geraldes (na foto). Nesse inquérito, a falta de testemunhas viria a determinar o arquivamento da acusação.
Depois de apanhado em flagrante no cemitério judaico, Carlos Seabra disse à imprensa que tinha renegado o movimento skinhead, apesar de ter tatuada no corpo a frase “morte aos traidores”. Mas a imprensa diz que através dos cartões de telemóvel foi possível apanhar várias ligações aos hammerskins e até descobrir fotografias de alguns alvos pertencentes à comunidade judaica em Portugal.
O ataque ao cemitério judaico aconteceu apenas dez dias depois do “lobo nazi” ter recebido a acusação do Ministério Público pela participação em acções concertadas de violência racial. No dia da operação policial que desmantelou os hammerskins, quando os inspectores da PJ entraram em casa de Carlos Seabra encontraram uma espingarda semi-automática, uma granada, várias munições e punhais, para além de propaganda neo-nazi e mais de cem autocolantes do PNR. Na primeira pesquisa ao computador apreendido, a polícia encontrou fotografias de activistas contra o racismo, publicados como “alvos a abater” no fórum da internet mantido por Mário Machado e Vasco Leitão, o nº 2 do PNR.
A estratégia de defesa de Carlos Seabra passa agora por negar tudo, desde a acção no cemitério até à militância no PNR, passando pelo contacto com Mário Machado, com quem diz nunca ter falado, apesar de ter guardado fotos onde aparece ao lado do líder dos hammerskins e de outros neo-nazis acusados pela Justiça.
Pelos vistos, a dificuldade do “lobo nazi” em contrariar a acusação vai ser semelhante à de voltar a ter boas relações com o PNR e os skinheads. É que a pesquisa dos informáticos da Judiciária descobriu no seu computador imagens contendo pornografia infantil e actos de pedofilia, segundo anunciou o Correio da Manhã, adiantando que Seabra é agora também acusado noutro processo por crimes sexuais. Até a mensagem do cartaz do PNR no Marquês de Pombal, criticando a “libertação de pedófilos” e a “prisão de nacionalistas”, ganhou outra interpretação depois do juíz ter determinado que Seabra ficará a aguardar o julgamento em liberdade.
No mega-processo dos neo-nazis, Carlos Seabra é acusado do espancamento de um cidadão indiano que passava na Praça dos Restauradores na madrugada de 20 de Abril do ano passado. Diz a acusação que Seabra e outros quatro cabeças-rapadas estavam à porta do Hard Rock Café a comemorar a data (aniversário de Adolf Hitler), quando viram a vítima, sozinha, a aproximar-se. Abordaram o homem e empurraram-no até cair no chão. A partir daí deu-se o brutal espancamento, com socos e pontapés na cabeça, com a vítima no chão até perder a consciência por causa do traumatismo craniano causado pelas agressões.
O ódio aos judeus é uma das imagens de marca dos neo-nazis portugueses. Poucas horas antes do brutal espancamento, e a escassos metros do local do crime, estava a ser assinalada a data dos 500 anos da matança de Lisboa, em que cerca de quatro mil pessoas foram assassinadas em três dias num clima de “caça ao judeu” instigada por frades dominicanos. Uma vigília organizada pela comunidade judaica, cuja intenção inicial era acender quatro mil velas no Rossio, juntou Os neo-nazis portugueses também estiveram presentes para proclamar o seu anti-semitismo. No Fórum animado por Mário Machado e Vasco Leitão, outro dos hammerskins acusados – curiosamente chamado Pedro Isaque Nogueira, usando o nick Arduno – não escondia a sua satisfação pelo facto e é mesmo citado na acusação: “Para mim foi um dia histórico pois além de termos feito a nossa primeira contra-manif tivemos a sorte de a fazer contra os piores inimigos da nossa raça”.
Também Dina Ferreira, arguida no processo e membro da Frente Nacional, afirmou no mesmo fórum: “Nunca tive tão perto do meu inimigo, foi um dia histórico para os nacionais socialistas, e logo um dia antes do aniversário do tio…[Hitler]”. Em sua casa a polícia viria a encontrar uma pistola, uma soqueira metálica, um spray paralisante e fotos de anti-fascistas, nomeadamente dos 21 “alvos” membros do movimento SHARP (Skinheads Against Racial Prejudice) que originaram o inquérito policial. O marido, Nuno Pedrosa, esteve presente na homenagem ao líder nazi Rudolf Hess em Lisboa, que a polícia dispersou, e faz parte da Volksfront International - uma organização neo-nazi com origem nos Estados Unidos. É ele que está acusado pela Justiça de ameaças ao humorista Ricardo Araújo Pereira na sequência do cartaz dos Gato Fedorento, colocado ao lado do do PNR, satirizando o discurso anti-imigração. No fórum da internet dirigido pelos skinheads, Pedrosa divulgou o nome e a morada do colégio frequentado pela filha de Ricardo Araújo Pereira, e deixou a ameaça no ar: “terei de fazer um destes dias uma visita à hora de saída do Colégio” situado não muito longe da residência do casal nazi, na Costa da Caparica, onde a polícia também apreendeu uma foto em que Pedrosa faz pose empunhando uma arma de fogo junto da bandeira nazi. Nuno Pedrosa é apontado no site do PNR como um dos dirigentes que integra o Conselho Nacional do partido.
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