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Democratas de pacotilha

Passos é a consequência natural e o prossecutor da mesma malta que quer fazer do país um ATL onde experimentar umas fórmulas mágicas de que ouviram falar na última viagem a Berlim.

Há um problema de registo que Passos Coelho já não é capaz de corrigir. Homem esforçado, insiste em martelar pregos no caixão cada vez que abre a boca. É revelador e algo patético constatar que nas últimas semanas a única notícia que PPC conseguiu lançar na comunicação social com algum sucesso foi estar muito apaixonado pela mulher. De resto, entre o affaire Nobre e as sucessivas mentirinhas de cordel a que a sua relação com Sócrates se resume não há nada, nem um segundo de proposta política ou governativa. Sabemos apenas que tem o governo na cabeça, um estado psicológico curioso, e não apenas por piada. Porque isto corresponde de facto a uma cultura muito própria de poder, a uma ideia de estado, da política, da democracia, em que a verdade não existe nem serve para nada nem sequer é discutida. Um pragmatismo utilitarista de uma clique de políticos que fingem não fazer política, da chamada sociedade civil, mas da verdadeira sociedade civil, a das empresas, grandes, com boas cabeças, muitos powerpoints e conselhos incisivos sobre o que fazer a Portugal como se de uma empresa se tratasse. É chegar lá e pôr tudo na ordem. Estes não-políticos são figuras igualmente curiosas, vivem em estado de negação a praticamente tudo, ao país que queriam que fosse outro, ao seu povo que obviamente não presta e, ao partido (PSD) do qual fingem não fazer parte, não fosse isso implicar com a sua objectividade.

Estas figuras caricatas são uma criação cultural a que o PSD é particularmente atreito porque é assim que o PSD gostava de ser e de governar. Sem fazer demasiada política, demasiada democracia serve para pouco ou nada, é deixar governar e fartar vilanagem. Não importa o ódio latente que Passos nutre por Cavaco, neste ponto nada mudou. Passos é a consequência natural e o prossecutor da mesma malta que quer fazer do país um ATL onde experimentar umas fórmulas mágicas de que ouviram falar na última viagem a Berlim. 

Faço parte dos que nasci muito depois do 25 de Abril mas cada vez mais me lembro do que isso significa. Não poderia ser de outra maneira. Lutamos na esperança de não cair num abismo onde já nos lançaram porque sabemos que as alternativas são claras.

Sobre o/a autor(a)

Doutorando na FLUL, Investigador do Centro de Estudos de Teatro/Museu Nacional do Teatro e da Dança /ARTHE, bolseiro da FCT
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