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Dossier Guerra ao Terrorismo

CINCO TEXTOS PARA PENSAR
“Na lógica do Homo sacer vê-se com clareza a maneira que têm os meios de comunicação social ocidentais de informar sobre os acontecimentos na Cisjordânia ocupada: quando o Exército Israelita ataca a polícia palestiniana e destrói sistematicamente as infra-estruturas palestinianas, no que Israel descreve como uma operação “bélica”, a resistência palestiniana aparece citada como prova que enfrentamos terroristas. Este mesmo paradoxo está inscrito na própria noção de “guerra ao terrorismo”: uma estranha guerra em que se criminaliza o inimigo e se responde à violência com mais violência”, assim começa um texto de Slavoj Zizek sobre aquilo em que nos transforma a “guerra ao terrorismo. Neste dossier temos várias vozes para discutir a questão: Galeano, Rancière e, claro, Zizek são alguns dos autores que trazemos à sua leitura. Pense, até porque, na guerra, as primeiras vítimas são o pensamento e a verdade.

No próximo mês de Outubro, vai fazer 45 anos do massacre de Paris. No dia 17 de Outubro de 1961, trinta mil argelinos manifestavam-se nas ruas da capital francesa a exigir a independência da Argélia. A policia fuzilou literalmente os manifestantes, mais de 300 corpos foram retirados do Sena. Nenhum polícia foi condenado. Nenhuma vítima teve direito à justiça. O homem que mandou executar este massacre foi o comissário Maurice Papon, fiel executor de todas as políticas, que anos depois foi condenado por se ter provado o seu papel na morte de centenas de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Maurice Papon tinha servido os nazis com o mesmo zelo que serviu os gaulistas: as suas mãos estavam sujas do sangue dos resistentes comunistas, dos judeus que fugiam à deportação nos campos de concentração e dos argelinos que queriam ter uma pátria independente. Nos dias do massacre dos argelinos, Papon justificou as medidas em nome do “combate ao terrorismo”.
As autoridades francesas quando torturavam ou bombardeavam aldeias justificam os seus actos em nome do sacrossanto “combate aos terroristas”.
Quarenta e cinco anos depois, o Supremo Tribunal Israelita autoriza o recurso à tortura e o governo Israelita massacra civis em Qana, sob a justificação que havia terroristas entre eles.  Um Estado que usa a arma do terror, pode matar milhões, como o Francês na Argélia, mas não consegue ter razão. O professor Miguel Unamuno respondeu uma vez aos franquistas que gritavam “viva la muerte” na sua Universidade de Salamanca: “Ganhareis, porque possuis mais do que a força bruta necessária. Mas não convencereis. Porque para convencer é necessário persuadir. E para persuadir é necessário possuir o que vos falta: razão e direito na vossa luta”.
Aquilo que se joga hoje nos campos do Líbano e na  “guerra contra o terrorismo” é muito mais do que a liberdade daqueles povos, é o direito de não querer uma sociedade que ache normal torturar e bombardear o seu semelhante para vencer. Aquilo que a Invasão do Iraque e a guerra do Líbano prova é que ao contrário do que garante o presidente George Bush: a democracia não está no nariz dos mísseis.

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Neste dossier:

Dossier Guerra ao Terrorismo

“Na lógica do Homo sacer vê-se com clareza a maneira que têm os meios de comunicação social ocidentais de informar sobre os acontecimentos na Cisjordânia ocupada: quando o Exército Israelita ataca a polícia palestiniana e destrói sistematicamente as infra-estruturas palestinianas, no que Israel descreve como uma operação “bélica”, a resistência palestiniana aparece citada como prova que enfrentamos terroristas.

Jacques Rancière

Entre o bem e o mal, sabemos que Deus não é neutro." Foi nesses termos que George W. Bush anunciou sua confiança na guerra lançada pelos EUA contra o terrorismo. Evidentemente o argumento suscita alguns problemas, dos quais o primeiro poderia ser expresso em termos simples: o fato é que, justamente nessa história, Deus parece estar-se a mostrar estranhamente neutro. É o mesmo Deus - o de Moisés/Moussa e de Abraão/Ibrahim- que justifica a convicção inversa: a de que os combatentes da jihad farão triunfar a causa do bem contra o "império do mal" americano.

Memórias escondidas

Enquanto as forças israelitas matavam mais de 300 civis e expulsavam de suas casas mais de meio milhão de pessoas para erradicar o “terrorismo”, uma pequena e amarga ironia histórica passava despercebida no início desta guerra em Israel.
Os veteranos de uma outra organização “terrorista” reuniram-se, nos narizes das forças israelitas, para comemorar a matança de 91 pessoas, entre as quais 28 britânicos, num hotel de Jerusalém.

Slavoj Zizek

A 15 de Janeiro começou nos EUA a quinta temporada da série "24 Horas", criada por Joel Surnow e Robert Cochran e que estreou em 2001. Cada temporada desse sucesso fenomenal da Fox Network é composta de 24 episódios de uma hora, correspondentes a uma hora do dia -a temporada inteira cobre os acontecimentos de um único dia.
O tema é a tentativa desesperada da Unidade de Contraterrorismo (CTU na sigla em inglês) de Los Angeles de evitar um acto terrorista de magnitude catastrófica - como, na quarta temporada, a explosão de uma arma nuclear roubada sobre uma megalópole americana.

Até Quando?

Um país bombardeia dois países. A impunidade podia parecer assombrosa se não fosse um hábito. Alguns protestos tímidos dizem que houve erros. Até quando os horrores continuarão a chamar-se erros? Esta carnificina de civis começou a partir do sequestro de um soldado. Até quando o sequestro de um soldado israelita poderá justificar o sequestro da soberania palestiniana? Até quando o sequestro de dois soldados israelitas poderá justificar o sequestro do Líbano inteiro?