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Bahrein e o “Contágio da Liberdade”

A revolta do Bahrein está a ser liderada pela pobre maioria xiita muçulmana do país. A agitação no reino da pequena ilha de apenas 530 mil cidadãos representa uma ameaça à Arábia Saudita e à sua própria considerável minoria xiita impaciente. Por Rannie Amiri, Counterpunch
Muitos manifestantes dizem que a própria monarquia deve ser abolida

“A Arábia Saudita não construiu uma ponte para o Bahrein apenas para que os Sauditas pudessem festejar aos fins-de-semana. Ela foi projectada para momentos como este, para manter o Bahrein sob controlo”.

- Dr. Toby Jones, especialista sobre a Arábia Saudita na Universidade de Rutgers

 

Se a Arábia Saudita foi abalada pela queda do antigo presidente egípcio Hosni Mubarak, certamente entrará em convulsões se a monarquia do Bahrein cair. Tudo indica que os outros cinco países membros do Conselho de Cooperação do Golfo (Gulf Cooperation Council - GCC)) (Kuwait, Oman, Qatar, Arábia Saudita e os Emiratos Árabes Unidos) farão todos os possíveis para evitar que tal aconteça.

A “liberdade contagiante” do mundo árabe está a espalhar-se rapidamente. A revolta do Bahrein está a ser liderada pela pobre maioria xiita muçulmana do país. Embora Mubarak tenha sido deposto por uma nação com uma população de 80 milhões, a agitação no reino da pequena ilha de apenas 530 mil cidadãos representa uma maior ameaça ostensiva ao GCC, particularmente à Arábia Saudita e à sua própria considerável minoria xiita impaciente.

Embora muitos se ligassem à rede de televisão Al Jazira com base no Qatar para cobertura das revoluções na Tunísia, Egipto – e agora na Líbia – escassa importância foi dada ao Bahrein, mesmo quando pacíficos manifestantes desarmados eram mortos nas ruas da capital apenas um dia depois de os manifestantes que dormiam na praça da Pérola terem sido selvaticamente atacados pelas forças de segurança do regime.

Caso outros xiitas, como os da Província de Leste da Arábia Saudita, rica em petróleo (onde são maioria) se tornem “infectados” com a ideia de levar para as ruas exigências pacíficas de reformas e representação políticas, direitos civis, e liberdade de religião e reunião, os outros cidadãos devem poder fazer o mesmo.

Isto explica por que o Rei Abdullah, da Arábia Saudita, que regressou de Marrocos na quarta-feira, após uma prolongada convalescença de três meses a uma cirurgia à coluna, anunciou que irá conceder 37 mil milhões de dólares em benefícios aos sauditas sob a forma de aumento de salários, subsídios de desemprego, perdão de dívidas e subsídios à habitação.

Entre aqueles que primeiro saudaram Abdullah após a sua chegada estava aquele que conta com o amadurecimento do monarca saudita para a sobrevivência do seu regime – o rei do Bahrein, Sheikh Hamad Bin Isa al-Khalifa. Numa tentativa de aplacar os xiitas do Bahrein, o Sheikh Hamad libertou 100 presos políticos das prisões de Manama antes de partir para Riade, incluindo os 25 activistas acusados de no ano passado terem conspirado contra o estado.

A Arábia Saudita tem mantido o Bahrein, pobre em recursos, com um fluxo de renda estável durante anos, e não tardou em fazer uma declaração dizendo que estaria pela monarquia “com todas as capacidades”. Sempre justificou fazê-lo ao enquadrar o Bahrein como um alegado baluarte contra a perceptível influência invasora iraniana, mas hoje é para ajudar a evitar que a Arábia Saudita passe por situações semelhantes ao longo e para além das suas fronteiras orientais. O emir do Kuwait acrescentou que “a segurança do Bahrein é a segurança da região”. Na passada terça-feira, enquanto os tanques percorriam a praça da Pérola, os ministros estrangeiros do GCC reuniam-se em Manama para reafirmar a sua solidariedade com a regra de al-Khalifa.

Precisamente uma semana depois, o Bahrein testemunhou o maior protesto anti-regime realizado desde que a revolta começou: uma força de 100,000 pessoas – um quinto de toda a população – envolveu-se em massivas manifestações pacíficas por toda a auto-estrada que leva à praça da Pérola.

Um dos participantes nesta manifestação disse: “Esta é a primeira vez na história do Bahrein que a maioria do seu povo se junta com uma mensagem: este regime tem de cair”.

Com a escalada da brutalidade do regime de al-Khalifa, aumentam as exigências dos manifestantes. Inicialmente pediam que o Khalifa Bin Salman al-Khalifa, tio do monarca e primeiro-ministro há quatro décadas, se demitisse. Depois vieram os pedidos para que o Bahrein se transformasse numa monarquia constitucionalmente legítima. Agora, muitos dizem que a própria monarquia deve ser abolida.

Por isso, quão influente tem sido a revolta do Bahrein?

Pequenos protestos têm ocorrido na Província do Leste da Arábia Saudita. As tropas sauditas já começaram deslocar-se nessa direcção.

Rannie Amiri é um comentador independente do Médio Oriente.

http://www.counterpunch.org/amiri02252011.html

Tradução de Noémia Oliveira para o Esquerda.net

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Neste dossier:

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