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Sem um pingo de Dignidade

Sócrates saiu aprovado porque mostrou à Chanceler alemã o que ela queria ver: medidas de austeridade destinadas a garantir os interesses dos credores, a começar pelos bancos alemães.

Sócrates foi à Alemanha. Com a lição bem estudada, números cuidadosamente seleccionados e uma maçã para a professora. A maçã somos nós. Mais concretamente, os salários, as prestações sociais, o aumento dos impostos de quem vai pagar a crise por inteiro.

No fim do dia, Sócrates congratulou-se com a aprovação das medidas de austeridade por parte da Chanceler Alemã. Uma aprovação pouco surpreendente, tendo em conta que o Governo alemão está já hoje a preparar o agravamento da disciplina orçamental e das medidas de austeridade, atacando ainda mais serviços públicos, direitos do trabalho e prestações sociais.

Em primeiro lugar, não deixa de ser extraordinário o ponto a que chegou a suspensão do funcionamento das instituições europeias. O Primeiro-Ministro já nem disfarça e vai dar as explicações directamente a quem manda. Qual Comissão Europeia, qual Parlamento Europeu, qual Presidente da União Europeia (sabem como se chama?).

Angela Merkel também não fez muito por manter as aparências. Disse que nunca tinha dito que Portugal precisa de ajuda. Só disse quais eram as medidas que Portugal devia aplicar (sic). Não se sabe com que mandato a Alemanha dá instruções a Estados-Membros, mas sabemos quais são essas instruções. E já percebemos também que o nosso Governo continuará a seguir à risca as ordens superiores.

Sócrates saiu aprovado porque mostrou à Chanceler alemã o que ela queria ver: medidas de austeridade destinadas a garantir os interesses dos credores, a começar pelos bancos alemães. Mesmo que isso signifique destruir a economia portuguesa. Tivesse o Primeiro-Ministro levado uma reforma fiscal justa e talvez a reacção fosse diferente.

Para lá de toda a Realpolitik, o actual contexto da União mostra uma coisa a quem a quiser ver: aos países da periferia têm de se unir para exigir e impor uma política orçamental europeia, mecanismos solidários de resposta à crise. A estratégia do bom aluno produziu os resultados que podemos observar. E, se assim continuar o nosso Governo, ainda não vimos nada...

Sobre o/a autor(a)

Eurodeputado e economista.
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