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Quando as gerações estão “à rasca”

A lista dos sacrificados, daqueles que são condenados a viver na “corda bamba”, engrossa dia-a-dia. No dia 12 de Março, estaremos na rua para lembrar que a precariedade não é uma fatalidade, mas sim uma escolha política.

O ensino está cada vez mais orientado exclusivamente para alimentar as necessidades do mercado de trabalho. As escolas transformam-se, neste contexto, em verdadeiras “fábricas de precários”.

Esta tendência mercantilizante do sistema de ensino, que se dedica de uma forma cada vez mais feroz à domesticação da futura mão-de-obra, espelha a realidade do mundo laboral. A característica mais procurada nos trabalhadores é a submissão. Submissão a horários desumanos, submissão a situações contratuais manifestamente ilegais, como é o caso dos falsos recibos verdes, submissão a baixos salários, submissão a condições laborais deploráveis…

A flexibilidade que é imposta não tem absolutamente nada a ver com uma maior autonomização do trabalhador. Muito pelo contrário. Esta flexibilidade retira ao trabalhador a possibilidade de fazer opções na vida. Condena-o, inevitavelmente, a uma rotatividade interminável entre desemprego e trabalho precário, mal pago e desqualificante.

Esta é a nova “geração à rasca”, aquela que, quando entra no mercado de trabalho, sabe, à partida, que trabalho com direitos é uma realidade cada vez mais escassa.

Mas, a par destes jovens, outras gerações são igualmente sentenciadas a viver na “corda bamba”.

Os nossos pais, que agora são mais facilmente confrontados com situações de desemprego, são atirados para relações laborais precárias ou engrossam as fileiras dos desempregados de longo termo. Mesmo para aqueles que ainda têm contratos sem termo, os chamados “contratos estáveis”, a situação sofreu profundas alterações. Estes trabalhadores têm sido estrategicamente eleitos como bodes expiatórios e os seus direitos são atacados. O objectivo é, claramente, “nivelar por baixo”. É fragmentar a luta dos trabalhadores.

Os pensionistas engrossam a lista dos sacrificados. Sobrevivem, e mal, com pensões de miséria e são atirados para a clandestinidade das estatísticas da pobreza após uma vida inteira de trabalho.

Alguns grupos são especialmente sujeitos a situações discriminatórias a nível laboral: as mulheres, as minorias étnicas, os imigrantes, entre outros.

São estas pessoas, não esta “geração à rasca” mas estas “gerações à rasca” que se vão manifestar no dia 12 de Março. Que vão lembrar que a precariedade não é uma fatalidade, mas sim uma escolha política. Que vão recusar ser atirados para uma verdadeira condição de não-cidadania.

Sobre o/a autor(a)

Socióloga do Trabalho, especialista em Direito do Trabalho. Mestranda em História Contemporânea.
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