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China: perfume de jasmim assusta governo

Convocatória que circulou na Internet convocando concentrações em grandes cidades chinesas, como Xangai e Pequim, provocou rebuliço na elite governante.
Um chinês foi detido ao colocar flores de jasmim num local onde se esperava que o povo se concentrasse. Foto de Maja Dumat, FlickR

Ninguém conhece a origem, mas o facto de que, através da Internet, se simulou o início de uma revolução popular denominada “Revolução do Jasmim”, neste final de semana, fez entrar em rebuliço a elite comunista da poderosa China. Circulou, na Internet, uma convocatória para as massas se concentrarem em grandes cidades como Xangai e Pequim. A resposta foi imediata e as ruas foram tomadas pela polícia e pela imprensa. Ao contrário do que dava a entender o rumor, as massas não se fizeram presentes. Mas o número de efectivos policiais nas ruas demonstra claramente o temor do governo.

Há semanas, desde que se iniciou a revolução no mundo árabe, a burocracia chinesa do Partido Comunista tem motivos de sobra para estar preocupada. A queda de ditaduras fá-la lembrar que os seus dias podem estar contados. A característica fundamental dos actuais levantes é de que as massas se colocam em marcha de maneira independente, enfrentando e derrubando barreiras e, inclusive, um mar de sangue, como acontece na Líbia.

Levantam-se de uma maneira vertiginosa, como um gigantesco urso, furioso e incontrolável. Não só a magnitude dos levantes é impressionante, como provoca profunda crise nas instituições do Estado. Entre essas, o seu principal pilar de sustentação, o exército. As revoluções actuais têm infligido, inevitavelmente, a crise nas fileiras do exército. Em particular entre os soldados cuja base familiar é a população oprimida por esses regimes. A confraternização entre a população e os soldados na Revolução Egípcia foi vista pelo mundo inteiro. A ruptura do exército de Muammar Gaddafi, na Líbia, esta semana, com uma unidade da importante cidade de Benghazi passando para o lado dos rebeldes e tomando a cidade, é outra demonstração inequívoca da estrada de cascas de ovos sobre a qual todos os ditadores e monarcas do planeta estão a caminhar nos dias de hoje. Infelizmente, para eles, não há mais nada em que se possa confiar. E isso, de qualquer ângulo que se analise, não é uma posição agradável de se estar.

Mas a actual situação é também um aviso para que ninguém se iluda. Os ditadores e monarcas também aprenderam com a derrota de Ben Ali e Mubarak. Por isso mesmo, em todos os países que se levantam, as manifestações estão a ser recebidas a balas e o frio e consciente assassinato dos manifestantes. Há mais lutas, mas também há mais sangue. Só o aumento do nível de organização das massas que se rebelam pode amenizar a quantidade de sangue a ser derramado nos próximos dias.

Repressão nos meios informativos

Durante os rumores, a burocracia chinesa aumentou ainda mais a repressão nos meios informativos. A cobertura dos acontecimentos no mundo árabe está a ser amenizada, para que não sirva de mau exemplo. A Internet esta sob grande censura e mesmo uma simples e inofensiva palavra como “jasmim” deve ter sido apagada do dicionário chinês neste final de semana. Um chinês foi detido ao colocar flores de jasmim num local onde se esperava que o povo se concentrasse. O detido, defendendo-se, perguntou: Que há de errado nisso?

Na China, durante a poderosa onda de greves do ano passado, os telemóveis foram instrumentos indispensáveis para ajudar na organização independente dos activistas sindicais. A burocracia governante tem motivos e experiência de sobra para saber que um dos mecanismos para dificultar a organização hoje é usar punho de aço sobre a liberdade na rede. Na China, o jasmim tornou-se no símbolo do pesadelo. Da elite burocrática chinesa, claro.

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