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Irlanda: desafios para 2011

Em 2011, os irlandeses terão vários desafios pela frente: sofrerão as consequências das medidas de austeridade aprovadas no orçamento, escolherão um novo governo e continuarão a contrariar a passividade dos sindicatos.

Os irlandeses, e a esquerda irlandesa em particular, enfrentam, actualmente, enormes desafios.

Em dezembro, o governo irlandês aprovou o Orçamento para 2011, que inclui, entre outros, a redução do salário mínimo, o aumento do IVA, e cortes orçamentais na educação, segurança social e saúde, e que resulta dos compromissos assumidos com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a União Europeia (UE).

Se é certo que os protestos contra o plano de resgate da banca e as medidas de austeridade têm mobilizado milhares de pessoas, como foi o caso da manifestação convocada pelo Congresso de Sindicatos Irlandeses (ICTU) de 27 de novembro, que reuniu perto de 150.000 pessoas em Dublin, e do protesto dos estudantes de 3 de novembro, que, segundo a União dos Estudantes da Irlanda, contou com mais de 40.000 participantes, também é verdade que  o movimento sindical irlandês não tem conseguido galvanizar este descontentamento.

Depois de terem desconvocado, praticamente na véspera, três greves gerais, uma no fim de 2009, outra em março e outra mais recentemente, apesar da grande pressão dentro do movimento para a acção, os sindicatos tornaram evidente a hesitação e confusão dos seus dirigentes.

As próximas eleições legislativas, a realizarem-se em 2011, não representarão grandes mudanças de posicionamento face às imposições das agências internacionais, no entanto, algum optimismo quanto à participação do Labour no governo poderá arrefecer a contestação social.

Um governo Fine Gael/Labour

A coligação entre o partido de centro direita Fiánna Fail e os Verdes irá abandonar o governo nas próximas eleições. Este é, praticamente, um dado adquirido.

Cowen é, neste momento, o primeiro-ministro menos popular da história irlandesa e o seu partido, o Fiánna Fail, apenas conseguirá 17% dos votos nas próximas eleições, segundo a sondagem publicada na segunda quinzena de dezembro. Os Verdes apenas obtêm 2% dos votos.

Ao que tudo indica, o Fine Gael, também de centro-direita, irá encabeçar o próximo governo ao lado do Labour (Partido Trabalhista), de centro-esquerda. Estes partidos obtiveram nas últimas sondagens 34% e 23% dos votos, respectivamente.

Existe ainda alguma expectativa no que concerne à possibilidade do Labour garantir mais votos do que o Fine Gael e, assim, conquistar um papel de primazia no governo. Para tal acontecer, o Labour teria que recuperar os votos transferidos para o Sinn Fein, ao qual é atribuída uma percentagem de 14%, e cuja ascensão deve-se, muito provavelmente, ao facto de ter contrariado o consenso em torno das políticas de austeridade. Se assim fosse, seria a primeira vez que o Labour assumiria este papel e isso levanta, entre alguns sectores mais optimistas, alguma esperança no sentido de uma nova reconfiguração do panorama político irlandês.   

Certo é que o Labour tem assumido uma postura marcadamente conformista em respeito ao Memorando de Entendimento firmado com o FMI e a UE e à implementação do pacote de austeridade.

Por outro lado, a União Europeia já deu garantias à banca no sentido da protecção dos seus interesses caso o Partido Trabalhista tenha alguma intenção de avançar com um novo regime sobre a falência dos bancos.

Neste contexto, a mudança de cadeiras no parlamento irlandês não se deverá traduzir em quaisquer mudanças na política económica governamental.

A United Left Alliance

As próximas eleições legislativas irlandesas trazem novas novidades à esquerda.

No dia 25 de novembro, a People Before Profite Alliance (PBPA), constituída, na sua maioria, por membros do Socialist Workers Party, o Socialist Party (SP) e o Workers and Unemployed Action Group (TWUG) anunciaram oficialmente a formação de uma nova coligação – a United Left Alliance (ULA), e a apresentação de 20 candidatos nas próximas eleições.

Esta aliança apresenta-se como uma “alternativa real aos partidos estabelecidos, bem como ao Sinn Fein e ao Labour, que também aceitam o mercado capitalista e se recusam a descartar qualquer coligação com partidos de direita”.

A ULA prevê eleger entre 5 a 10 candidatos, no entanto, as suas maiores esperanças residem na eleição do vereador Richard Boyd Barrett (PBPA), da vereadora Joan Collins Vereador (PBPA), do deputado europeu Joe Higgins (SP) e do vereador Seamus Healy (TWUG).

Apesar de a ULA constituir, à data, uma aliança eleitoral, existem expectativas no sentido de esta vir a transformar-se num verdadeiro partido de massas e que possa enfrentar os poderes estabelecidos. Os fundadores da ULA afirmam-se “comprometidos com a construção de uma massa de esquerda alternativa para unir os trabalhadores, quer do sector público como do privado, irlandeses ou imigrantes, os desempregados, beneficiários de prestações sociais, os aposentados e os estudantes na luta para mudar a sociedade”.

Por enquanto, a ULA tem como base um programa generalista assente em sete pontos: o fim do resgate dos bancos; a taxação dos mais ricos; a implementação de um verdadeiro plano de criação de emprego; a defesa dos serviços públicos; a promoção da igualdade e da não discriminação; a protecção do meio ambiente; e a construção de uma verdadeira alternativa de esquerda na Irlanda e na Europa, que se opõe aos ditames da UE e das suas políticas neoliberais.

O sucesso desta aliança dependerá, em parte, do resultado obtido nas próximas eleições e da correlação de forças que delas resultarem. Internamente, os dois principais grupos que compõem a ULA – o PBPA e o SP, terão que encontrar consensos, nomeadamente no que concerne à possibilidade de alargamento deste novo movimento.

Sobre o/a autor(a)

Socióloga do Trabalho, especialista em Direito do Trabalho. Mestranda em História Contemporânea.
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