You are here

A crise das dívidas soberanas

Como um castelo de cartas, a crise começou pela Grécia, alastrou à Irlanda, e prepara-se para apanhar Portugal. A banca e os seus agentes querem utilizar esta Grande Recessão para conseguir debilitar o estado de bem-estar, reduzir a dimensão social da Europa e reduzir os direitos sociais e laborais.

Em 27 de Abril, a agência de notação Standard & Poor anunciou o corte do “rating” à Grécia de BBB+ para BB+, passando os títulos da dívida daquele país a serem considerados "junk" ("lixo"). A Grécia passara a ser considerada como o país mais arriscado da zona euro.

O anúncio levou à imediata queda do euro face ao dólar. A Grécia pediu um empréstimo à União Europeia e ao FMI.

Um mês antes, o Wall Street Journal noticiara que, em Janeiro de 2010, um grupo de grandes especuladores de "hedge funds", entre os quais George Soros, tinha-se reunido num jantar, no qual ficou combinado o esforço para provocar a desvalorização do euro até um dólar.

Começou assim a chamada crise das dívidas soberanas, que se alastrou, com índices diferentes de gravidade, à Irlanda, a Portugal, à Espanha e Itália.

“Existe forte evidência de que a Banca e os seus agentes, que incluem desde o BCE ao Fundo Monetário Internacional (o que se chama na terminologia anglo-saxónica o establishment financeiro) querem utilizar esta Grande Recessão para conseguir o que desejam desde o princípio da UE: debilitar o estado de bem-estar, diluir e reduzir a dimensão social da Europa e reduzir os direitos sociais e laborais”, observou o economista Vicenç Navarro.

Foi a receita usada na Grécia: para obter a redução do défice orçamental de 12,7% do produto interno bruto (PIB) para os 2,8% em 2012, foram anunciadas medidas de uma austeridade sem precedentes, incluindo o aumento imediato de impostos, o aumento da idade da reforma, cortes na remuneração dos funcionários públicos.

O “senhor que se segue” foi a Irlanda, que em Novembro recorreu a um plano de resgate financeiro da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) para salvar o sector bancário, no valor de 100 mil milhões de euros. O governo irlandês anunciou logo em seguida um novo pacote de austeridade que incluiu medidas como a redução do salário mínimo, o aumento do IVA, a eliminação de 24 mil postos de trabalho no sector público e o corte de 2,8 mil milhões no orçamento da Segurança Social até 2014. Os impostos sobre as empresas, porém – que são baixos – não sofreram quaisquer alterações.

“A lógica neoliberal é sempre a única que se reconhece como legítima, apesar dos seus evidentes fracassos…Enquanto economistas, aterroriza-nos constatar que estas políticas continuam a estar na ordem do dia. Mas os factos trataram de as questionar”, alertou um manifesto divulgado por economistas franceses.

No final do ano, os “mercados” (isto é, os bancos e os especuladores) apostavam que o próximo alvo seria Portugal.

(...)

Neste dossier:

O Mundo em 2010

Em época de balanço do ano, relembramos aqui alguns dos factos que marcaram o mundo em 2010. Começando pela catástrofe que arrasou o Haiti em Janeiro, e concluindo com a primeira grande derrota eleitoral de Barack Obama.

Haiti: o terramoto e a herança colonial da pobreza

Um terramoto como o que atingiu a capital do Haiti teria causado enormes danos em qualquer cidade do mundo. Mas a amplitude da catástrofe resultou de uma herança directa do mais brutal sistema de exploração colonial da história.

Deepwater Horizon, o maior desastre ambiental dos EUA

A explosão duma plataforma petrolífera da BP no Golfo do México provocou o maior desastre ambiental da história dos EUA e levantou a questão da falta de segurança e respeito pela legislação ambiental por parte desta multinacional do petróleo.

A crise das dívidas soberanas

Como um castelo de cartas, a crise começou pela Grécia, alastrou à Irlanda, e prepara-se para apanhar Portugal. A banca e os seus agentes querem utilizar esta Grande Recessão para conseguir debilitar o estado de bem-estar, reduzir a dimensão social da Europa e reduzir os direitos sociais e laborais.

Solidários com Gaza sob fogo israelita

A “Flotilha da Liberdade” juntou ONG internacionais numa viagem por mar com ajuda humanitária para a faixa de Gaza, denunciando o bloqueio israelita. O exército assaltou os barcos e matou 9 activistas.

Barack Obama anuncia oficialmente o fim da Guerra do Iraque

Mas 50 mil soldados norte-americanos continuam num país devastado, com uma taxa de desemprego de 25% a 50%, doenças epidémicas sem controlo e 53% da população urbana a viver em bairros de lata.

Cuba anuncia reformas económicas

O anúncio veio em Setembro, pela voz da central sindical: a “actualização do modelo económico” de Cuba vai levar ao despedimento de um milhão de funcionários públicos e ao fim do subsídio de desemprego. Fidel e Raul Castro vão apostar na dinamização do sector privado, esperando que este absorva quem deixe de trabalhar para o Estado.

Derrota dos democratas nas eleições dos EUA

Republicanos obtêm a maior vitória de um só partido desde 1948 na Câmara de Representantes. Democratas mantêm maioria no Senado e viram à direita depois das eleições, dando assim razão ao Tea Party.

O ano das greves gerais

O ano que se encerra foi marcado por uma combatividade sem precedentes. Nenhum dos problemas foi solucionado, o que parece ser o prenúncio de confrontos ainda maiores no próximo período.