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2010: um ano de lutas
Mais de 3 milhões de trabalhadores fizeram greve no dia 24 de Novembro. Em conferência de imprensa conjunta, Carvalho da Silva e João Proença destacaram que a greve geral daquela quarta-feira foi a de maior impacto na história do país e sublinharam o apoio e a sensibilização da opinião pública para os objectivos da greve.
Carvalho da Silva fez questão de destacar que a paralisação não foi só do sector público, mas teve também grande abrangência no sector privado. “Não foi só a Autoeuropa”, disse, “mas também nas corticeiras, nas metalo-mecânicas, e em diversos outros sectores. O líder da CGTP destacou a participação excepcional dos trabalhadores dos transportes, “não só públicos mas também do sector privado”, destacou a paralisação total do sector portuário e da aviação civil – tirando os serviços mínimos de quatro voos nas ilhas – e ainda a greve nos tribunais, nas escolas e universidades. E ainda a enorme adesão na área da Saúde.
Olhando para 2011, o líder da maior central sindical do país afirmou que a greve vai ter consequências no futuro, destacando também a cobertura internacional que a greve mereceu nos média.
Já João Proença sublinhou que a greve foi contra as políticas do PEC e traduziu a esperança dos trabalhadores num futuro melhor, e a exigência de mudança de políticas. “Recusamos o PEC 3, mas não aceitamos um PEC 4 nem um PEC 5”, disse. “Os trabalhadores estão a dizer que este não é o caminho, que é preciso valorizar a criação de emprego”.
No final do dia, milhares de pessoas assistiram ao mega-concerto organizado pelo SPGL, em Lisboa, e festejaram a maior mobilização grevista de sempre, que assim respondeu às medidas de austeridade do Governo. À festa da greve geral juntaram-se Carvalho da Silva (líder da CGTP) e Libério Domingues (União de Sindicatos de Lisboa). O concerto animou o final do dia da Greve Geral, juntando milhares de pessoas na Praça da Figueira, em Lisboa, para ouvir Jorge Palma e Camané, que abriram o espectáculo, mas também Janita Salomé, José Mário Branco, Rui Curto, Tony da Costa, João Gil e Paulo Ribeiro.
No início do concerto, o presidente do SPGL, António Avelãs, falou ao público, saudando a grande mobilização verificada na Greve Geral mas as intervenções foram muitas e variadas: no final do concerto ouviram-se as palavras de apoio de Zé Pedro, dos Xutos e Pontapés, Bruno Cabral, dos Intermitentes do Espectáculo e do Audiovisual, Libério Domingues, da União de Sindicatos de Lisboa, e Carvalho da Silva, Secretário-geral da CGTP-IN.
O dia de greve geral foi marcado pela forte mobilização contra a austeridade sem fim que se estendeu pelo sector público , incluindo a imprensa (A Lusa teve apenas os serviços mínimos a trabalhar, por exemplo, e a RTP esteve a meio gás), mas também pelo privado com fábricas paralisadas. Mas o dia 24 de Novembro ficou também marcado por alguns piquetes de greve mais difíceis, onde os patrões agrediram funcionários ou onde houve intervenção da polícia no sentido de furar a greve – como foi o caso da greve nos CTT em Cabo Ruivo, Lisboa -, outros mais bem conseguidos, e pela concentração dos precários e dos trabalhadores intermitentes do espectáculo e do audiovisual no Rossio, em Lisboa, durante a tarde do dia da greve geral.
Foi a maior greve geral de sempre. Este foi o retrato da greve.
2010: um ano combativo
A mobilização combativa dos trabalhadores e dos movimentos sociais contra a resposta à crise baseada na austeridade, nos cortes sociais, na injustiça social e nos atentados aos serviços públicos, resultou de um crescendo de lutas e organização do sentimento de revolta que culminou com a forte adesão à greve geral de 24 de Novembro.
No dia 29 de Setembro, a CGTP respondeu à chamada da Jornada de Luta Europeia e reuniu dezenas de milhares de pessoas numa manifestação entre o Marquês de Pombal e a Assembleia da República, em Lisboa. No resto a Europa a jornada foi pontuada pelos protestos generalizados nos vários países e pela greve geral em Espanha.
Olhando para o ano que passa, é de assinalar a mobilização dos estudantes para a greve geral e contra os cortes nas bolsas de acção social, as greves e mobilização dos trabalhadores da função pública, dos enfermeiros (duas greves de quatro dias seguidos, em Março e em Junho, culminando com uma grande manifestação nacional a 18 de Junho), do sector dos transportes, dos trabalhadores das finanças e da administração local, nos CTT, etc.
Em Setembro, activistas de vários movimentos (sindicatos, precários, LGBT, feministas, etc.) promoveram uma iniciativa em Lisboa que tentou restaurar a possibilidade da intervenção unitária, pública e cidadã – “Para quebrar o silêncio sobre as injustiças e as mentiras da crise. Vamos à luta”. O Vamos! colocou na rua altifalantes para a promoção da discussão colectiva dos vários problemas que afectam o país e deu voz a muitas pessoas que acederam ao convite para falar sobre questões relacionadas com a imigração, com a pobreza, com a política económica e as respostas à crise, com a precariedade, com a discriminação, com os serviços públicos e com a luta contra guerra.
Em Novembro, 336 trabalhadores da Groundforce, empresa do grupo TAP, viram os seus postos de trabalho ameaçados com o anúncio do despedimento colectivo. Mas a solidariedade demonstrada pela cidade de Faro e pela opinião pública criou uma forte pressão e mobilização dos trabalhadores da empresa, o que levou à marcação de greves, na Groundforce e também por parte dos trabalhadores da Portway, que se solidarizaram com os afectados pelo despedimento. A operadora de handling concorrente, da gestora aeroportuária ANA, anunciou uma paralisação nos mesmos dias, o que fez cair por terra a intenção da TAP de subcontratar a empresa para substituir ilegalmente trabalhadores da Groundforce em greve.
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