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A TINA de Sócrates

A mensagem de Natal de José Sócrates não escolheu menos do que o mesmo raciocínio de Margaret Thatcher para legitimar, em vão, a política do Governo.

O rosto político mais destacado da ruptura neoliberal na Europa dos anos 80, Margaret Thatcher, projectou o seu arrogante combate aos direitos sociais fundamentais numa frase afrontosa para a democracia: “There is no alternative”. O acrónimo TINA ficou como divisa desse estilo e do credo político que ela protagonizou.

A mensagem de Natal de José Sócrates não escolheu menos do que o mesmo raciocínio para legitimar, em vão, a política do Governo. “Não há outro caminho”, sentenciou Sócrates. Esta política como “the only way” é a visão que o Primeiro-Ministro tem para o país. Afirmando com firmeza que não há alternativa à política do Governo para que os mercados financeiros possam reganhar confiança no país, José Sócrates define a prioridade do seu Governo – hipotecar o que quer que seja às indicações dos mercados – e escolhe uma ilusão como horizonte – a de que um dia os mercados vão mesmo render-se à excelência das medidas do Governo. Ilusão, pura ilusão: os mercados são insaciáveis e quanto mais frágil for a presa mais esfaimados eles a cercam. Dois dias antes da mensagem do Primeiro-Ministro, uma das mais importantes agências de notação financeira, a Fitch, decidiu baixar o rating da Caixa Geral de Depósitos…

Entre a sua ilusão e a realidade, Sócrates escolhe a primeira e anuncia ao país a sua firme determinação em combater a segunda. Já nos tinha dito isso muitas vezes: vai manter o rumo. Foi esse rumo que avalizou a antecipação de dividendos milionários na PT ao mesmo tempo que quebrava o acordo para um aumento de 25 euros no salário mínimo nacional e que retirava apoios sociais básicos a quem mais nada tem para se sustentar. Em nome de uma ilusão, o Primeiro-Ministro anuncia agora um ano político voltado para o crescimento e o emprego. E recorre ao nevoeiro ideológico para tentar calar que a realidade da sua política traz no bojo desemprego e recessão.

Não vão os nossos olhos ver para lá da névoa e Sócrates precavê-se proclamando que não há alternativa. É pois entre a saudade de Thatcher e a clareza da democracia que estamos hoje desafiados a escolher. Sócrates assim o quer. Assim será.

Sobre o/a autor(a)

Professor Universitário. Dirigente do Bloco de Esquerda
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