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O Milagre do Natal
É mais do que sabido que impedir a reeleição de Cavaco Silva não será uma tarefa fácil. Há toda uma tradição de recondução do Presidente da República que se recandidata. O desejo de estabilidade política do eleitorado, que normalmente vê na figura do PR alguém com traços paternalistas que paira acima da política mundana, a isso convida. Cavaco Silva encaixa na perfeição neste tipo de ideal tendencialmente expresso pela opinião pública. A sua figura e a forma meticulosa como tem gerido a sua exposição e comunicação deixam claro que todos os que a ele se opõem têm muito trabalho a fazer em Janeiro.
Mas independentemente da balança estar claramente inclinada para a reeleição de Cavaco Silva, não deixa também de ser interessante verificar como o agora candidato tem saído incrivelmente incólume de uma série de questões que vão surgindo na agenda. Consegue passar entre os pingos da chuva com uma destreza (ou sorte) impressionante, como se se tratasse de uma espécie de ser transcendente que nunca se molha, nunca se suja, nunca se compromete.
O caso BPN, que agora voltou à tona devido à injecção de mais 500 milhões de euros, é apenas um exemplo neste sentido. Como é evidente, não está naturalmente em causa o lançamento de suspeitas de envolvimento do actual PR no grupo liderado por Oliveira e Costa. De todo, importa ser claro a este respeito. Mas não deixa de ser interessante observar como um escândalo que não pára de crescer e que envolve figuras ultra-próximas de Cavaco Silva não esteja a causar os mínimos danos neste.
O BPN é conhecido como uma das grandes obras do cavaquismo, dado o tão grande número de responsáveis do banco que exerceram funções governativas entre 85 e 95. Dissociar o BPN do círculo do actual PR está longe de ser uma tarefa fácil. No entanto, paradoxalmente, tudo continua a processar-se, o escândalo continua a aprofundar-se sem que a imagem de Cavaco saia sequer respingada. No momento presente, em que as mais duras políticas de austeridade estão a ser adoptadas ao mesmo tempo que se continuam a atirar milhões para um buraco sem fundo chamado BPN, é um verdadeiro milagre de Natal que tudo esteja a passar ao lado do actual PR.
Nesta perspectiva, valha-nos o facto de o Natal estar acabar, estando já à porta um mês de Janeiro onde muita coisa acontecerá certamente. Não será necessário um milagre para derrotar Cavaco Silva. Mas se calhar importa sinalizar e desconstruir com seriedade esta espécie de milagres não param de o beneficiar.
Comments
Muito bem. Cavaco não está a
Muito bem.
Cavaco não está a ser tratado como merece. Na responsabilidade que tem desde 85, em que a crise estrutural foi implantada, de 85 a 95 com o disfarce dos fundos europeus - ele e o seu bando (como está claro agora), com o caminho aberto pelo governo do bloco central de Soares e Mota Pinto que se vergaram de imediato às primícias do neoliberalismo.
Na sua cumplicidade passiva e aproveitamento activo da incrustação na banca dos seus mais dedicados servidores.
Não sei quem vai assumir o papel a fundo. Defensor de Moura já fez o que lhe competia e logo foi «isolado» por zeladores do sistema na comunicação social.
Cavaco não pode negar que Dias Loureiro, «a monte», foi seu conselheiro de Estado e provavelmente seu informador de privilégio nos 140% de lucroi na venda das acções não registadas. Oliveira e Costa foi financiador da sua campanha.
E, o pior, é o irá se for eleito
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