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Sempre em potência

Os jornalistas têm graça quando querem. Nuno Simas assina no Jornal Público uma peça sobre as dez figuras de 2010, destacando Passos Coelho com o título 'o potencial futuro primeiro-ministro'.

É irresistível saltar para 'o futuro primeiro-ministro em potência', ou ainda 'o eterno futuro primeiro-ministro'. Há obviamente legitimidade para inserir Pedro Passos Coelho nas figuras marcantes de 2010, por muitos episódios, alguns memoráveis mas, acima de tudo, sempre pelas melhores razões.

Acabado de chegar à liderança do PSD fez um acordo com o PS para aprovar os PECs, seguido de um pedido de desculpas público pelo aumento de impostos, um golpe mediático que transbordava sinceridade. Em seguida lançou uma proposta de revisão constitucional para acabar com o despedimento por justa causa, ideia que não aqueceu o coração de muita gente e que lançou a revisão numa onda de mutações esquizofrénicas no seu estado de existência: ora era uma proposta provisória, ora apenas uma ideia, ora um debate que todos precisávamos ter, até ao dia em que que a maldita foi mesmo lançada a ver se toda a gente a esquecia.

Depois veio o orçamento do estado para 2011 e Passos amuou com Sócrates, descobriu que ele não era de confiar. Manteve um suspense inútil até ao último dia para salvar a cara ameaçando chumbar o orçamento apenas porque sim, numa espécie de 'agarrem-me que ainda mando isto tudo abaixo'. Levou uma lição de Cavaco que não queria chatices e aprovou o orçamento a contragosto. Desde então está calado para ver se Cavaco o deixa ser primeiro-ministro.

No meio disto não há uma única declaração memorável de Passos Coelho. Nada. O actual líder do PSD resume-se a isto. Para candidato a primeiro-ministro é pouco. E é por isso que está sempre em potência. Portugal está sempre à espera das ideias brilhantes de Passos Coelho, que tardam sempre por chegar, mas hão-de certamente vir, afinal de contas ele é candidato a chefiar o país.

Ominosamente o PSD entrou numa invulgar serenidade. Estão contentes, confiantes, seguros como se predestinados. Já conseguem ver as portas do casino entreabertas e esforçam-se por esconder o nervoso miudinho. Só precisam de voltar a pôr Cavaco em Belém e o futuro é garantido. Passos Coelho não interessa. 

Sobre o/a autor(a)

Doutorando na FLUL, Investigador do Centro de Estudos de Teatro/Museu Nacional do Teatro e da Dança /ARTHE, bolseiro da FCT
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