China: Prémio Confúcio da Paz foi um fracasso

14 de December 2010 - 14:57

Galardão criado pelas autoridades chinesas para ser alternativa ao Nobel foi um enorme fiasco político, porque o nomeado não quis recebê-lo.

porTomi Mori

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Lien Chan não foi receber o prémio

A China, que ocupa hoje o posto de segunda potência mundial, censurou completamente as informações relativas à cerimónia anual do Prémio Nobel, para impedir que a sua população pudesse obter informações sobre Liu Xiaobo, o “subversivo” chinês, que recebeu o Nobel da Paz na sexta-feira. A China fez duras críticas durante os últimos meses, acusando o comité do Nobel de estar a meter-se em questões internas do país.

Numa operação para desprestigiar o Nobel, a China criou um vergonhoso Prémio Confúcio da Paz, que seria entregue na última quinta-feira, antes da cerimónia do Nobel. Com essa manobra, que seria divulgada com grande alardeio, a China pretendia ofuscar o recebimento do Nobel do Paz por Liu Xiaobo. Mas ao contrário das previsões dos líderes chineses, o Prémio Confúcio tornou-se no maior fiasco político, já que o nomeado para recebê-lo, Lien Chan, alegou não saber do assunto e fez um pronunciamento a dizer que, de qualquer forma, não o aceitaria. Lien Chan foi outrora vice-presidente de Taiwan e é um dos dirigentes do Partido Nacionalista, o Kuomintang.

A burocracia do Partido Comunista, que dirige a China, transformou o país na maior prisão política do planeta. Estão encarcerados aí nada menos que 1,4 mil milhões de chineses, que não podem tecer nem o mais leve comentário contra os governantes e as suas nefastas políticas.

A China é hoje o país mais repressivo do globo e parece ter-se transformado em “mestre” para a primeira potencia mundial, os EUA de Barack Obama. Assim como a China, os EUA parecem estar a seguir o exemplo, como ficou patente na furiosa repressão que tem desenvolvido contra a Wikileaks, de Julian Assange. Com as duas principais potências mundiais a dar um espectáculo de repressão politica, cabe a nós, os mortais, esperar para ver o que vem em seguida…

Não só o “subversivo” Liu Xiaobo se encontra preso, como milhares de activistas que lutam por um futuro melhor na China, sob as mais diversas bandeiras políticas, encontram-se enjaulados. Outros estão desterrados, como vários líderes dos protestos da Praça da Paz Celestial (Tian anmen), em Pequim, em 1989, que foi o último poderoso movimento democrático a ser esmagado pelo Partido Comunista Chinês.

Outro preso: Zhao Lianhai

Cabe lembrar também o menos famoso lutador Zhao Lianhai. Assim como Xiaobo, encontra-se enjaulado, condenado a dois anos e meio de prisão em Novembro passado.

Zhao Lianhai foi condenado por um tribunal em Daxing, distrito de Pequim por “perturbar a ordem social”, segundo o veredicto, de 2008 a 2009. Em 2008, ocorreu o episódio do envenenamento do leite por melanina, que matou pelo menos oito bebés, levou à internação de milhares de crianças, um número que foi estimado em nada menos de 300 mil vítimas. Esse dramático acontecimento, trancado a sete chaves pela burocracia governante, saiu à luz dias após as Olimpíadas de Pequim. O episódio chocou o mundo e a burocracia fez de tudo para amenizar o impacto da notícia. Não se faz necessário dar explicações sobre todas as consequências humanas de tal tragédia.

Mas o crime de Zhao foi exactamente o de se pronunciar contra este hediondo crime cometido pelas autoridades. Zhao formou um grupo “Kidney Stone Babies” (bebés com pedra nos rins), principal organização a defender as vítimas, entre os quais a sua família, já que um filho seu também foi contaminado. Zhao lutou pela instituição de um dia nacional em homenagem às vitimas. Lançou o website “jieshibaobao” (bebés com pedra nos rins), que foi imediatamente bloqueado pelas autoridades chinesas. A repressão não só atingiu Zhao, como a sua esposa, a mãe, parentes e estudantes que integravam a mesma luta.

Ainda um outro caso importante é o da condenação em Outubro último do advogado e activista sindical Zhao Dongmin, condenado a três anos de cárcere também por “por perturbar a ordem social”.

Em Agosto de 2009 a burocracia encarcerou Zhao Dongmin por ter organizado, junto com centenas de trabalhadores, uma associação em defesa dos direitos dos trabalhadores na província de Shaanxi, com o intuito também de combater a corrupção nas empresas dirigidas pelo estado burocrático chinês. Zhao Dongmin é um maoista e pertenceu aos quadros do Partido Comunista, impulsionando o Grupo de Estudos Mao Zedong, que foi o embrião da associação independente dos trabalhadores de Shaanxi.

Neste momento em que em todo o mundo se luta pela libertação de Liu Xiabo, cabe ampliar essa revindicação à exigência de liberdade para Zhao Linhai, Zhao Dongmin e dos milhares de prisioneiros políticos na China.

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Tomi Mori