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É preciso salvar o Atum de Barbatana Azul

Ambientalistas reclamam dos governos medidas drásticas para salvar o atum de barbatana azul do Atlântico (peixe muito utilizado para a confecção de sushi), à beira da extinção, durante uma reunião internacional na capital francesa. Por A. D. McKenzie, IPS/Envolverde.
Desde 1970, a prevalência da espécie do atum de barbatana azul (Thunnus Thynnus) caiu 80%.

Organizações como o Fundo Mundial para a Natureza (WWF), Pew Environment Group e Greenpeace orquestraram uma forte campanha por ocasião deste encontro em Paris da Comissão Internacional para a Conservação do Atum Atlântico (Cicaa), que vai até o dia 27.

Estas entidades querem que os membros da Cicaa suspendam a pesca industrial do atum de barbatana azul do Atlântico oriental – petisco gourmet procurado em todo o mundo – até que sejam implementadas medidas sustentáveis e a espécie mostre sinais de recuperação. Ou, no mínimo, que as cotas de pesca anuais passem das actuais 13.500 toneladas para seis mil toneladas. “A nossa posição está ancorada na ciência”, disse Gemma Parkes, porta-voz do capítulo mediterrâneo do WWF. “Não estamos contra a pesca sustentável. Os próprios cientistas da Cicaa dizem que a redução ainda permite uma forte possibilidade de as espécies se recuperarem”, acrescentou.

Desde 1970, a prevalência da espécie do atum de barbatana azul no mar caiu 80%, segundo os cientistas. Esta redução é atribuída à super-exploração, que busca atender ao voraz apetite pelo peixe de algumas nações industrializadas, particularmente para ser usado na preparação de sushi. Aproximadamente 80% da espécie capturada no Mediterrâneo é exportada para o Japão. Este país, em conjunto com os Estados Unidos e a União Europeia (UE), representam 70% do mercado desta variedade marinha.

Os principais problemas que afectam o atum de barbatana azul são a falta de respeito pelas normas e o uso de grandes barcos industriais, tecnologicamente sofisticados, que “cercam cardumes de atum que estão desovando e os capturam com enormes redes, com o aspecto de uma bolsa”, disse Gemma à IPS. Algumas destas embarcações “destrutivas” praticam a pesca ilegal e suas actividades são difíceis de investigar, ressaltou. Estas frotas deveriam ser erradicadas, acrescentou.

O WWF alertou que, neste ritmo acelerado de pesca, até 2012, o Mediterrâneo poderá perder o atum de barbatana azul que desova nas suas águas. Por outro lado, o Pew Environment Group exige a criação de santuários de desova no Mediterrâneo e no Golfo do México, únicas áreas conhecidas onde esta variedade se reproduz. “É lógico: não se matam os animais quando estão a reproduzir-se”, disse Susan Lieberman, à frente da delegação dessa organização enviada à reunião da Cicaa.

Embora o Pew também esteja a favor de uma suspensão total da pesca de atum de barbatana azul, Susan afirmou à IPS que os ambientalistas não ficaram “animados” com as posições da União Europeia, Japão ou Estados Unidos (que não definiram claramente a sua posição, além de apoiar uma redução das cotas). “Não cremos que os governos venham a fazer isso”, acrescentou.

O Pew e outras organizações disseram que a Cicaa tem de adoptar medidas urgentes para deter a “maciça fraude” que ocorre no sector dedicado à pesca do atum de barbatana azul. Um comunicado do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigadores diz que, entre 1998 e 2007, a pesca ilegal desta espécie de atum facturou 4 mil milhões de dólares americanos. Isto inclui o facto de as frotas reportarem para menos as capturas, oferecendo peixe pescado ilegalmente, e de os governos também reportarem cifras pesqueiras inferiores às reais. “Há muita fraude no tocante ao atum de barbatana azul. Todos os países têm responsabilidade igual”, disse Susan.

Parece improvável que os governos que participam nos actuais debates aceitem todas as demandas ou recomendações dos ambientalistas. Pierre Amilhat, à frente da delegação da UE, que abriu oficialmente a reunião, disse que as negociações seriam “difíceis”. Mas, afirmou à IPS estar “bastante optimista” quanto a chegar-se a soluções sólidas. Porém, negou-se a dar aos jornalistas um número exacto para as novas cotas que se busca estabelecer, dizendo que serão “entre zero e 13.500 toneladas”. Pierre reconheceu que “há muitos barcos pescando e pouquíssimos peixes”.

O presidente da Cicaa, Fabio Hazin, disse que a reunião actual “abrirá uma nova era de sustentabilidade e responsabilidade”. É de se esperar que “as épocas obscuras em que se ignoravam os conselhos científicos” fiquem para trás, acrescentou. No passado, a Cicaa foi criticada por ignorar recomendações dos seus próprios especialistas ambientais. No entanto, numa reunião realizada em Março, em Doha, no Catar, os países que pescam e comercializam o atum do Atlântico – entre eles Japão, UE, Canadá e Noruega – comprometeram-se a usar o encontro de Paris para mostrar o seu compromisso de seguir os conselhos científicos.

“Deveriam considerar mais as conclusões dos especialistas”, disse Jorge Luis Valdes, da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Artigo de A. D. McKenzie, publicado em IPSNews/Envolverde

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