You are here

Milhares manifestaram-se contra o “Tchernobil sobre rodas”

O comboio de 123 toneladas de resíduos nucleares chegou a custo à Alemanha, este sábado. Antes, em França, activistas ecologistas algemaram-se a carris e impediram durante 3h a sua passagem.
Para garantir que os resíduos nucleares chegavam ao destino, na Alemanha, foram mobilizados 16 mil polícias. Foto LUSA/EPA/KAY NIETFELD.

Os 14 vagões ficaram bloqueados algumas centenas de metros antes da estação de Cahen, na Normandia, enquanto a polícia retirava os activistas, que se prenderam à via-férrea, tendo depois o comboio retomado a sua marcha.

O seu trajecto de mil quilómetros a partir de França foi então modificado durante a noite, devido a esta primeira manifestação em Cahen, na Normandia. Na pequena localidade de Gorleben, no Nordeste da Baixa Saxónia, junto ao rio Elba, centenas de activistas antinucleares aguardaram a composição a que o jornal britânico The Daily Telegraph chamou “O comboio do Inferno”, retomando a terminologia dos ecologistas.

No sábado, o comboio a que o canal de notícias France 24 se referiu como um “Tchernobil sobre rodas”, conseguiu chegar com muito custo à Alemanha, mas aí, dezenas de milhares de manifestantes receberam-no, em Dannenberg (perto de Gorleben), num grande movimento de protesto contra a chanceler federal Angela Merkel, que decidiu prolongar a existência das 17 centrais nucleares alemãs. Foi uma das maiores concentrações anti-nucleares dos últimos anos.

Os organizadores calcularam ter mobilizado 50 mil manifestantes, mas a polícia só conseguiu dizer que eram “mais de 10 mil”. Para garantir que os resíduos chegavam ao destino foram mobilizados 16 mil polícias.

Os resíduos radioactivos saíram da Alemanha, foram processados numas instalações que o grupo francês Areva tem na Normandia e regressaram depois ao país de origem. O transporte de lixo atómico entre a central francesa e o depósito provisório em Gorleben, na Alemanha, é feito desde a década de 1990. Apenas 10 por cento do material processado pode ser novamente usado, explicou a Deutsche Welle, empresa alemã de radiodifusão para o estrangeiro.

Na cidade de Valogne, de onde o comboio saiu, activistas da Greenpeace desfraldaram bandeiras antinuclear.

Comboio fez o transporte “mais radioactivo da história”

Dirigentes da Greenpeace, incluindo o director executivo Kumi Naidoo, disseram que aquele transporte é "o mais radioactivo da história" e potencialmente mais perigoso do que o desastre que ocorreu em Chernobyl, em 1986, na actual Ucrânia, então parte da ex-União Soviética.

O presidente da Greenpeace em França, Pascal Husting, afirmou que "a energia nuclear não é uma solução para o futuro" e que a mobilização da polícia mostra que "esta tecnologia tem um problema com a democracia".

A energia nuclear tem sido impopular na Alemanha desde o desastre de Chernobyl e a recente decisão do governo de Merkel anula parcialmente uma decisão governamental, de há 10 anos, de encerrar todas as centrais nucleares alemãs até 2011. As 17 centrais nucleares alemãs continuarão a funcionar por mais 12 anos, em média.

Os opositores já levaram a contestação ao plano de Merkel ao Supremo Tribunal alemão.
 

Artigos relacionados: 

Termos relacionados Energia nuclear, Ambiente
(...)