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Pequena boa nova

A pequena boa nova foi anunciada como um exemplo das capacidades do país: Portugal vai entrar, enquanto membro não permanente, para o Conselho de Segurança da ONU.

Apesar de não ter dimensão para sequer afastar a atenção da crise por um breve momento, a pequena boa nova foi uma bonita ocasião para o “consenso” do centrão, unido mais uma vez pelo “interesse nacional”. A pequena boa nova foi saudada num coro “floribelista”: viva este país que é pobre, pobre, em ouro, mas rico, rico, em diplomacia. Com tal feito, haveria um “reforço da influência”, ele seria “um sinal de grande prestígio” e, segundo Sócrates, serviria mesmo para os portugueses “aumentarem a sua auto-estima”.

Mas a pequena boa nova vale o mesmo que o ouro dos tolos. Faz tanto pelo prestígio e pelo bem-estar nacional como a eleição de Barroso para presidir à Comissão Europeia e a de Constâncio para ser vice do Banco Central Europeu, continuando ambos a aprofundar um neo-liberalismo submisso aos interesses económicos da burguesia dos países mais ricos da Europa. Faz tanto como o facto da famosa “cimeira da guerra” ter sido nos Açores. A pequena boa nova só pode ser boa para quem pensa pequeno, para quem mistifica o “interesse nacional”, para quem não quer ver que no momento da decisão esse “interesse nacional” do centrão se reduzirá, como noutros tantos momentos, à submissão militar aos EUA ou à submissão económica à Alemanha e aos outros poderosos da Europa.

Por exemplo, a pequena boa nova não fará a diferença no Médio Oriente, nem implicará a coragem de propor o fim da “dívida” obscena do “terceiro mundo”. A pequena boa nova foi um triunfo da desqualificação da própria ONU face à NATO. E, dentro da ONU, não implicará a coragem de reformar, de acabar com os privilégios absurdos como a existência de membros permanentes e o seu direito de veto. Para quem saudou a pequena boa nova é normal que a ONU continue a escrever direito internacional por linhas tortas.

Mas se a pequena boa nova nada muda no mapa das influências internacionais, acrescenta uma nova responsabilidade à esquerda portuguesa para trabalhar mais pela solidariedade internacional. Porque agora cada recomendação ou sanção votada ou que ficou por votar responsabiliza directamente o Estado português.

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Professor.
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