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Dramas e cenários

Pedro Passos Coelho e José Sócrates. Um amuou e o outro ameaça demitir-se.

O amuo como estratégia política não é brilhante. Dá um certo ar de mau perdedor, de alguém a quem foi roubado o chupa chupa. E, com efeito, Sócrates roubou o PEC III ao PSD, ainda por cima sem o avisar. Uma grande trapaceira, uma malvadeza que só merecia um bom puxão de orelhas. Cavaco Silva, ciente da sua posição como pai da nação, recusa-se a dar uma lição ao malvado e ainda obriga Passos a engolir em seco. Sem mais alternativas o líder do PSD assume agora a única postura que lhe resta, a do rezingão, e mantém o bluff até ao final na esperança de que alguém o leve a sério. 

O chumbo do orçamento por parte do PSD, que não vai acontecer, seria por isso o equivalente a um prestar de contas pessoal. E não vai acontecer porque Cavaco Silva, tal como todo o PSD, está de alma e coração com este orçamento, as presidenciais estão marcadas e, o PSD não quer prejudicar a reeleição do seu verdadeiro líder. Porque a verdade é que a magistratura de influência de Cavaco não tem servido para outra coisa que não estruturar e aguentar toda a direita à volta da Presidência nestes longos anos sem poder. E eles lá estão. Manuela Ferreira Leite, Pacheco Pereira, Marques Mendes, Marcelo Rebelo de Sousa, e toda uma miríade de pequenos opinadores em fila a dar lições de responsabilidade ao pequeno Passos. 

Com este drama a comunicação social dedica-se ao suponhamos. Surgem cenários inauditos, muitos alimentados directamente pela casa civil. Governos de salvação nacional, o nome de Jaime Gama é lançado pelo “I” (a ver se pega), duodécimos, novos orçamentos, a crise, atenção que os mercados ainda dão cabo de nós. 

Um nacional ‘valha-me nossa senhora’ completamente desnecessário. E com isto é preciso relembrar que temos uma greve geral marcada para 24 de Novembro. Uma greve que uniu as duas grandes centrais sindicais, CGTP e UGT, para uma iniciativa que a minha geração nunca teve oportunidade de ver e participar. A primeira e única vez que tal sucedeu foi em 1988, contra o pacote laboral de Cavaco Silva. O país parou, mas o então primeiro-ministro caracterizou a greve de “parcialíssima”. Vinte anos depois ele não mudou de personalidade, mas o país piorou.

Sobre o/a autor(a)

Doutorando na FLUL, Investigador do Centro de Estudos de Teatro/Museu Nacional do Teatro e da Dança /ARTHE, bolseiro da FCT
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