You are here

Blogues mais críticos que comentadores das televisões

Perante as medidas anunciadas pelo Governo a maioria dos comentadores de televisões colocou apenas uma questão: se o pacote era ou não tardio. Nos blogues as críticas são mais vincadas e variadas.
Nos blogues as críticas são mais vincadas e variadas.

Após o anúncio de mais medidas de austeridade, ontem feito por José Sócrates, cedo se começaram a questionar os normais comentadores “oficiais” sobre se “iriam os mercados reagir bem a isto?”, assim se questionava, por exemplo, na rádio Camilo Lourenço. Uma das possíveis respostas foi avançada por José Castro Caldas com um implacável “talvez não”. Com efeito, após os comentários dos normais gate keapers que sugeriam as benesses e justeza das medidas anunciadas, várias foram as vozes dissonantes a fazerem diferentes análises.

Conforme avança Jorge Bateira, nos Ladroes de Bicicletas, “em finais de 2011 teremos muito mais desemprego, um défice público que resiste à descida e uma dívida pública ainda maior”. Ainda no mesmo blogue, Ricardo Pais Mamede afirma que “o que se passa em Portugal não é um fenómeno só português. Ao recusarem por em prática os instrumentos que permitiriam evitar taxas de juro especulativas sobre as dívidas do Estado, os actuais dirigentes da UE deixam claro ao que vêm: estão determinados a fazer implodir o que resta de Estado Social na Europa através de uma recessão prolongada no espaço da União”. Em relação à proposta de taxação da Banca, Ricardo Mamede afirma que “a «Revisão dos benefícios fiscais para pessoas coletivas» juntamente com a «Alteração do sistema de deduções e de benefícios fiscais no âmbito do IRS» valem 0,4% do PIB; ora, nas medidas anunciadas em Maio, a redução das deduções em sede de IRS valia 0,47% do PIB; já se vê a determinação em acabar com as escandalosas benesses fiscais que são dadas a algumas grandes empresas, a começar pelos bancos”.

Com efeito, as vozes do descontentamento surgem inclusivamente em blogues de direita, como o caso do muito insuspeito 31 da Armada, onde a Ana Margarida Craveiro, faz uma análise crua das medidas anunciadas afirmando que “dou por mim a pensar no que é que posso cortar do consumo doméstico para pagar as contas. À procura dos 23%, se os posso eliminar. E isto mete-me um nojo imenso. Eu não devia estar a fazer isto. Não devia estar a pagar ainda mais impostos, para uns idiotas incompetentes esturrarem numa estupidez qualquer (TGVs, aeroportos, PPP, é escolher, há dinheiro a rodos para todos). Este aumento do IVA é um assalto ilegítimo, motivado por má-fé”.

O facto é que as medidas anunciadas por José Sócrates em nada contribuirão para a resolução desta crise econômica. Pelo contrario, contribuirão para um maior fosso entre classes sociais, atacando quem menos tem, obrigando quem trabalha a ser responsabilizado pela crise. Ou, conforme avança João Pinto e Castro, “ é ilusória a ideia de que Portugal ou a Espanha podem safar-se cumprindo as ordens de Bruxelas. No final deste absurdo processo de ajustamento, os países da periferia terão estagnação económica, desemprego elevado e níveis relativos de endividamento ainda maiores durante anos a fio. Grécia e Irlanda estão apenas mais avançadas nesse processo”.

Texto de André Pires

Termos relacionados Sociedade
Comentários (5)