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Os corais estão brancos

O Mar das Caraíbas Sul pode estar a sofrer o início de uma maciça mortandade de corais, afirmam cientistas. Por Stephen Leahy da IPS.
Corais a morrer no Pacífico - Foto de Centre of Excellence for Coral Reef Studies, Austrália

Uxbridge, Canadá, 13 de Setembro (Terramérica).- As águas do Mar das Caraíbas estão mais quentes do que nunca, e os corais da região estão a ficar brancos e começam a morrer, alertam especialistas. O fenómeno pode ser observado sobretudo nas Antilhas Menores, nas Caraíbas Sul, disse Mark Eakin, coordenador do programa Coral Reef Watch, da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA).

A temperatura está mais elevada do que em 2005, quando um grave caso de embranquecimento afectou boa parte das Caraíbas. Quase 60% dos corais morreram nessa oportunidade nas norte-americanas Ilhas Virgens, disse Mark ao Terramérica. Nessa região, a temperatura da água atinge o seu ponto máximo entre Setembro e Outubro.

É provável que a área afectada pelo embranquecimento de corais aumente para Leste e chegue até à Nicarágua, passando pela Ilha La Española, onde ficam Haiti e República Dominicana, até Porto Rico e Antilhas Menores, e para o Sul ao longo das costas caribenhas do Panamá e da América do Sul, alertou no mês passado a Coral Reef Watch.

“Isto pode ser pior do que em 2005, a menos que algumas tempestades tropicais misturem as águas quentes da superfície com as mais profundas e frias”, ressaltou Mark. Os recifes coralinos são encontrados em menos de 1% dos oceanos do mundo, mas abrigam entre 25% e 30% de todas as espécies marinhas. Aproximadamente mil milhões de pessoas dependem directa e indirectamente deles para subsistir.

É um dos ecossistemas essenciais para a sobrevivência humana, diz a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Um pedaço colorido de coral é uma colónia de milhares de diminutos animais, os pólipos, que produzem em torno deles esqueletos de pedra calcária em forma de taça, utilizando o cálcio da água marinha.

Geração após geração de pólipos que vivem, constroem e morrem vão formando os recifes, um habitat para esta e muitas outras espécies de flora e fauna. As cores dos corais são proporcionadas pelas algas zooxanthellae, que cobrem os pólipos, fornecem a eles alimentos – açúcares e aminoácidos – e em troca obtêm um lugar seguro para viver com luz suficiente para a sua fotossíntese.

Esta perfeita relação simbiótica, que funciona há 250 milhões de anos, quebra-se quando a água aquece muito ou é contaminada. As algas morrem, o que pode ser visto pelo embranquecimento, e os pólipos ficam sem alimento e tornam-se muito vulneráveis às enfermidades. Antes da década de 1980, foi registado um único grande episódio de esbranquecimento. A elevação de um ou dois graus da temperatura máxima de verão basta para disparar o processo.

Quanto mais tempo durar essa temperatura, maior é a descoloração. Os corais podem recuperar se a situação se prolongar algumas semanas. O aquecimento da atmosfera, derivado da emissão de gases de efeito de estufa libertados pela queima de combustíveis fósseis, está a aquecer gradualmente os oceanos. Em Julho, a temperatura das superfícies marinhas registou um pico de 62 décimos de grau acima da média do Século 20, segundo a NOAA.

No sudeste da Ásia, os oceanos aqueceram quatro graus acima do normal, em Maio. Embranqueceram entre 60% e 80% dos corais de várias áreas próximas de Indonésia, Vietname, Sri Lanka, Tailândia e Malásia, e alguns morreram, segundo estudos do Programa da Indonésia da Wildlife Conservation Society.

Acredita-se que desta vez o embranquecimento será pior do que em 1998, quando acabou com 30% dos corais dos oceanos Índico e Pacífico ocidental e central, afirmou esta organização. Naquele ano, 16% dos corais do mundo morreram. Até a década passada, a sobrepesca, a contaminação e o desenvolvimento económico costeiro eram as principais causas das mortes dos corais. Estas ameaças persistem, apesar da criação de áreas marinhas protegidas e de reservas onde a pesca é proibida.

Apesar das boas intenções, estes esforços não são efectivos, disse ao Terramérica o ecologista marinho Peter Sale, do Instituto para a Água, o Meio Ambiente e a Saúde da Universidade das Nações Unidas. “A maioria das áreas marinhas protegidas não funciona. As chamamos de parques de papel”, acrescentou. Apresentam problemas de administração e de projecto e não consideram a realidade de que os recifes não podem existir em isolamento.

Se o desenvolvimento costeiro gera contaminantes ou sedimentos que fluem para o oceano, os recifes próximos estarão acabados, porque se encontram numa área marinha protegida, disse Peter. Também há uma assombrosa escassez de dados científicos. “Não sabemos como deveria ser cada uma dessas áreas para apresentar resultado efectivo”, afirmou.

Nas Caraíbas, a pesca mais abundante é a da lagosta. “Mas nenhum dos países da área sabe de onde procedem as suas. Assim, como gerir adequadamente esse recurso?”, questionou. Após a desova, as larvas da lagosta flutuam livremente cerca de nove meses no mar, viajando centenas de quilómetros de distância do lugar de nascimento, segundo novas investigações.

Estas descobertas fazem parte de um projecto que elaborou o guia “Preserving reef connectivity: a handbook for marine protected area managers” (Preservando a conectividade dos recifes: manual para administradores de áreas marinhas protegidas), informou Peter. A protecção local e a gestão dos corais são essenciais para que resistam aos efeitos da mudança climática: o embranquecimento e a acidificação das águas, que enfraquece o esqueleto calcário do recife, enfatizou.

No começo dos anos 1980, os habitantes de duas pequenas ilhas das Filipinas recuperaram os seus corais e a sua pesca, que estavam à beira da extinção. Conseguiram isso criando zonas de proibição para pesca e gerindo-as de maneira adequada. Hoje capturam mais peixes com menos esforço e geram boa renda com o turismo, disse Peter. É necessário que as áreas marinhas protegidas das Caraíbas sejam geridas numa rede regional vinculada à costa continental, acrescentou. “Se for bem feito, serão beneficiados corais, pesca e o entorno costeiro”, concluiu.

Artigo produzido para o Terramérica, projecto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.

(Envolverde/Terramérica)

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