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Petróleo: Novo método de extracção pior que perfurar

Trata-se de um processo que implica injectar grandes volumes de água e produtos químicos em reservas subterrâneas para fracturar as rochas e assim libertar gás e petróleo. Os críticos dizem que este método pode envenenar os fornecimentos de água. Artigo de William Fisher, para a IPS.

Nova York, 30/8/2010, (IPS) - Com a limpeza do Golfo do México a meio caminho, as empresas de energia já prevêem um ataque ambientalista sobre o que asseguram ser o próximo marco em matéria de extracção de recursos naturais: o “fracking”, ou “fractura hidráulica”.

Trata-se de um processo que implica injectar grandes volumes de água e produtos químicos em reservas subterrâneas para fracturar as rochas e assim libertar gás e petróleo.

Os críticos dizem que este método pode envenenar os fornecimentos de água. Também afirmam que utiliza grande quantidade de água doce e gera muita água residual, com limitadas opções de eliminação. Segundo a indústria do sector, o “fracking” é usado em aproximadamente 90% dos poços em operação hoje em dia, e entre 60% e 80% dos novos terão de usar para continuarem a ser viáveis.

As empresas afirmam que o processo é seguro. Entretanto, as operações de fractura hidráulica estão vinculadas a riscos ambientais que podem ter importantes implicações financeiras para as empresas envolvidas, o que aumenta os controles em matéria de regulação.

O Congresso norte-americano encomendou à Agência de Protecção Ambiental (EPA) que estude o impacto ambiental potencial do “fracking” sobre a água potável, a saúde humana e o meio ambiente, depois de alguns moradores se terem queixado no programa de televisão Sixty Minutes, da rede CBS. Esta matéria também atraiu a atenção de grupos de accionistas, que este ano apresentaram propostas que afectam uma dezena de empresas que praticam este método, às quais foi exigido mais clareza sobre os riscos.

As operações de fractura hidráulica implicam o movimento de armazenamento e eliminação de vários milhões de litros de água e produtos químicos tóxicos. Por culpa da falta de transparência, pode ser muito difícil saber quais os químicos as empresas utilizam. Em vários Estados onde operam companhias de gás natural, foram registados derramamentos, punições por descumprimento de normas e litígios vinculados ao processo de fractura.

Das 12 propostas apresentadas, seis foram submetidas a votação dos accionistas, obtendo apoio entre 21% e 42% dos mesmos. “Estamos satisfeitos com o tipo de voto que recebemos, em apoio a uma proposta ambiental para o primeiro ano”, disse Larisa Ruoff, da Green Century Capital Management, firma com sede na cidade de Boston especializada em investimentos ambientalmente responsáveis.

O interesse de consumidores e da indústria é tão grande que a EPA foi obrigada a adiar sua quarta audiência – a última – por razões de segurança. A decisão chega menos de 24 horas após esta agência anunciar que transferia a sua audiência da Universidade de Binghamton para um centro de convenções em Siracusa, no Estado de Nova York, a 105 mil quilómetros dali.

A agência criticou a Universidade, dizendo que esse centro de estudos queria aumentar a quantia que cobrava de 6 mil dólares para 40 mil dólares. A Universidade disse prever a presença de aproximadamente oito mil pessoas, bem como manifestações de organizações ambientalistas e de partidários das perfurações, o que exigiria um lugar maior, aumentando os custos em matéria de segurança. Ainda não foi marcada nova data nem nova sede para a audiência.

As audições procuram ajudar a definir o alcance do estudo da EPA. As três anteriores aconteceram em Fort Worth, no Estado do Texas, Denver, no Colorado, e Canonsburg, na Pensilvânia. Mais de 1.200 pessoas participaram na última. A EPA realiza o seu estudo enquanto empresas de gás adentram na região de Marcellus Shale, principalmente para explorar as jazidas existentes no subsolo de Nova York, Pensilvânia, Virgínia Ocidental e Ohio, além de outras reservas do país.

Com as opiniões do público apresentadas por escrito nas quatro audições, a Agência pretendia completar o projecto do estudo até Setembro, iniciá-lo em Janeiro e ter os primeiros resultados até o final de 2012. Os investidores afirmam que os últimos acontecimentos tornam mais importante que nunca que sejam revelados os riscos existentes.

No começo deste mês, o Departamento de Protecção Ambiental da Pensilvânia ordenou à firma EOG Resources que suspendesse as perfurações nesse Estado após a explosão de um poço da companhia. Segundo o Departamento, “o incidente apresentou uma séria ameaça para a vida e a propriedade”. Na reunião anual da EOG, em Abril, cerca de 30% dos accionistas votaram a favor da proposta.

A atenção dos meios de comunicação sobre a fractura hidráulica e o grau de preocupação pública sobre os potenciais impactos ambientais dispararam desde 2007. Em Junho, o programa Sixty Minutes divulgou uma nota sobre o “fracking” que não informou aos telespectadores sobre quais os produtos químicos que são injectados no solo.

Em seguida, o documentarista Josh Fox abordou o tema no seu programa “Gasland”, agora exibido pela rede HBO. Nele relata o catastrófico derramamento de óleo causado entre Abril e Julho pela multinacional British Petroleum (BP) no Golfo do México e os efeitos ambientais dos esforços da indústria para extrair recursos naturais.

Ao percorrer o país, Josh comprovou que onde era comum a prática do ”fracking” também abundavam os efeitos negativos: uma proporção incomum de aumento dos casos de cancro, água que em geral não era potável e inclusive inflamável, animais que perdiam o pelo, entre outros. Segundo ele, são 450 mil destas explorações de gás em todo o país, com uma proposta de mais cem mil em Nova York e outras cem mil na Pensilvânia.

Não surpreende que a indústria do gás natural veja as coisas de um modo bastante diferente. A América’s Natural Gas Alliance, grupo de pressão a favor da indústria, disse que a água inflamável mostrada no documentário era assim porque o poço de água do dono da casa foi cavado num “bolsão de gás natural”. Também afirmou, citando um informe da EPA, que a mortandade de peixes que Josh denuncia no filme não se deve à exploração de gás natural, mas aos resíduos líquidos da mineração de carvão.

Envolverde/IPS

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