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"A solução liberal para uma crise é agravá-la"

Entrevistado pelo Diário de Notícias, Francisco Louçã fala da crise económica, da "coligação instável" do PS com PSD, e da importância das próximas eleições presidenciais. E diz também que o Bloco já demonstrou "que pode haver uma política de esquerda para um governo de esquerda".
"Esta coligação instável entre PS e PSD é uma antecâmara de eleições, porque o PSD já anunciou que tirará o tapete ao Governo de José Sócrates tão depressa quanto puder. Possivelmente no ano de 2011", prevê o dirigente bloquista. Foto Paulete Matos/Flickr

Na entrevista publicada este domingo, Louçã criticou a resposta dos governos europeus à crise, dizendo que "os planos de austeridade que estão aprovados são desastrosos e, do ponto de vista do Nobel Paul Krugman, a Europa está a ser destruída pelas políticas que agravam o desemprego e tornam mais difícil a recuperação económica". E lembra que já no próximo mês "há grandes jornadas sindicais que vão juntar a nível europeu greves gerais e grandes mobilizações para dar uma resposta das esquerdas europeias contra a desagregação da UE".

"As políticas liberais têm uma solução drástica: se há muito desemprego, reduz-se o salário para recuperar a acumulação de capital. A solução liberal para uma crise é agravá-la", diz o dirigente do Bloco.

Quanto aos protagonistas da austeridade em Portugal, Louçã realça que "o acordo entre o PS e o PSD no Plano de Estabilidade e Crescimento  é a chave na política portuguesa desta governação. O PSD é um partido da situação e, mesmo tendo Passos Coelho pedido desculpa, os resultados estão à vista".

"Se ele é opositor, José Sócrates pode dormir bem descansado, porque, nas questões que são decisivas para a vida portuguesa, Passos Coelho esteve com e não contra José Sócrates. Sabemos que há uma grande diferença em relação à cultura da direita que o PSD encarna, mas o facto é que, no PEC e no Orçamento, o PSD está com o Governo", acrescentou o coordenador da Comissão Política do Bloco de Esquerda. Quanto ao PS, Louçã considera que "não é alternativa porque é o problema. O PS é a crise".

"Esta coligação instável entre PS e PSD é uma antecâmara de eleições, porque o PSD já anunciou que tirará o tapete ao Governo de José Sócrates tão depressa quanto puder. Possivelmente no ano de 2011", prevê o dirigente bloquista, que vê na proposta de revisão constitucional de Passos Coelho "uma bandeira oferecida à direita para lhe garantir que, sendo socratista na política económica, é opositor". Louçã diz que "Pedro Passos Coelho está a prometer mais e a dizer: 'Eu garanto que vão ter uma base de acumulação financeira como nunca existiu ao entregar-vos os salários, as reformas e as poupanças das pessoas que vão ter de pagar os seus actos médicos ao preço real.'". Com a proposta do PSD, "as pessoas pagarão impostos e um segundo imposto indirecto quando tiverem uma necessidade de saúde", avisa Francisco Louçã.

O aproximar das eleições presidenciais foi outro dos temas desta entrevista, com Louçã a acreditar que "a política portuguesa mudará profundamente" com Manuel Alegre a disputar uma segunda volta contra Cavaco. "Esta campanha pode ser muito motivadora de esperança, de mobilização e reorganização política dos referenciais no pacto político em Portugal".

"Não me lembro de haver um candidato à reeleição, que tem a força de ser o presidente instalado, chegar a uma campanha eleitoral com 51% nas sondagens - 59% no máximo -, ou seja, pró-ximo do limiar que o obriga a ter uma segunda volta. Isto nunca aconteceu com Mário Soares, Jorge Sampaio ou outros candidatos", recorda Louçã, que vê em Alegre um "factor novo" da política portuguesa: "É independente, tem uma voz própria em relação ao que foi a trajectória da austeridade e centra a sua campanha na defesa dos mais frágeis da sociedade portuguesa".

Louçã criticou ainda Cavaco por ter dito numa das últimas aparições pública que "o país é insustentável". "Se o País é insustentável, significa que desistimos dele e de nós próprios, e não podemos dar-nos ao luxo de abandonar o combate à pobreza, à desigualdade e a uma economia decente. Nós não desistimos.", afirma Louçã.

"O que é insustentável é a situação de degradação financeira, e aí o Presidente lembrar-se-á de um membro do Conselho de Estado - Dias Loureiro - que nos levou 4500 milhões de euros num buraco do BPN, igual a três pontes sobre o Tejo", lembra ainda o dirigente bloquista.

Para enfrentar o PEC e a austeridade social, "o que o Bloco tem feito é responder com ideias e mobilização, mostrando que pode haver uma política de esquerda para um governo de esquerda", resume Louçã. "Temos ido à luta com muita intensidade, e neste Verão todos os dias há um comício do Bloco no País. Fizemos em Julho e fazemos em Agosto, porque sentimos a necessidade de prestar contas e é o único partido que o faz", conclui o deputado bloquista.

 

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