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Só me saem é Duques

João Duque não sabe o que ensinar aos seus alunos sobre o neoliberalismo depois do mau exemplo da família Costa Leite.

João Duque, presidente do ISEG e comentador assíduo, escreveu um artigo para o Expresso onde expunha a sua infinita tristeza pelo facto da família Costa Leite, detentora do Finibanco, ter traído a confiança dos investidores quando comprou acções da própria empresa mal soube que ia ser alvo de uma OPA por parte do Montepio, aproveitando-se, deste modo, da assimetria de informação entre a administração e os investidores privados.

O economista anuncia que essa acção por parte dos detentores do Finibanco é, para além de ilegal, uma enorme machadada na credibilidade do mercado e um problema para quem acredita no mecanismo de financiamento da economia através da Bolsa. Para João Duque o neoliberalismo não é isto.

Mas o facto é que a práxis contradiz a ortodoxia dogmática que muitos economistas continuam a pregar. O neoliberalismo é o que é. Todos os dias nos chegam notícias de negócios em que a transparência – a de quem acredita que o mercado se regula por si próprio - não existe. Casos como o do BCP, em que os administradores manipularam as contas do banco para manter as acções em alta e com isso receberam prémios de gestão milionários, confirmam os piores receios face à “liberdade” do mercado. Os milhões que fogem a cada ano para os offshores, escapando às malhas do fisco, incutem a ideia de que só quem não pode fugir aos impostos é que paga. Casos como o do Freeport destroem, com a morosidade e atrapalhação do Ministério Público, a concepção democrática de justiça.

O mercado não tem ética ou regras deontológicas, as empresas servem apenas para realizar lucros e quem ainda prega a bondade das mãos invisíveis que actuam nas economias está condenado a acreditar em algo que simplesmente não existe com base no seu próprio preconceito ideológico.

Precisamos hoje, mais do que nunca e porque estamos a pagar com a austeridade o auxílio prestado aos bancos, de transparência (como o fim dos offshores) e de justiça fiscal (como a imposição de uma taxa efectiva de 25% de IRC para os bancos) para que a economia comece a deixar de estar refém da boa-fé de quem intervém nos mercados. E, depois disso, precisamos de muito mais.
 

Sobre o/a autor(a)

Engenheiro e mestre em políticas públicas. Dirigente do Bloco.
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