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Sinais equívocos

A Presidência da República, órgão unipessoal, é contaminável pelas características das pessoas dos candidatos, que marcam a sua campanha.

Por isso, com todo o respeito por Fernando Nobre e por todos os que olham com simpatia para a sua candidatura, venho dizer que me surpreendeu o arranque da sua campanha.

Estas notas não são sobre o médico que dedicou o seu trabalho ao mundo. Não é essa vida de solidariedade humanitária que define o candidato a presidente. Aliás, o Bloco não apoiou Alegre pela sua qualidade de poeta - mesmo que queira fazer da sua poesia voz do mundo. O Bloco apoia Manuel Alegre por ser quem mais abre espaço à esquerda e por ser quem pode disputar a primeira volta contra Cavaco Silva: foi ele que se destacou contra a iníqua avaliação docente, contra o Código de Trabalho, em defesa da Saúde pública e da Segurança Social. Este socialista representa uma coerência que é contrária, e corajosamente contrária, à das políticas liberais que nos têm desgovernado.

Cavaco prepara a reeleição. O nosso compromisso é o de juntar forças. O Bloco escolheu abrir espaço à esquerda e evitar a proliferação de candidaturas porque é assim que disputa a vitória. Mas há quem tenha decidido de outra forma, e por isso, há também quem, no campo contrário, julgue ter razões para celebrar. Rui Ramos, Marcelo, a direita exulta: afirmam que a candidatura de Fernando Nobre divide a esquerda e deixa Cavaco acima de quezílias partidárias.

Na verdade, a direita vive um misto de euforia e medo. Mas as generalizações de Fernando Nobre sobre "os partidos" são perigosas e a redenção do país pelo carisma de um indivíduo é uma fórmula gasta. Sei que Nobre tem valores solidários, mas o seu discurso anti-político cria confusão onde devia haver clareza. Surpreende-me, não compreendo e não partilho este discurso que se diz "nem de esquerda, nem de direita".

O "imperativo moral" que move o presidente da AMI é evidentemente sincero, mas quando chega ao candidato presidencial Fernando Nobre torna-se um biombo para um discurso opaco: nos últimos dias já propôs uma coligação entre todos os partidos de esquerda e de direita, afirmou-se simpatizante monárquico e afirmou querer "incluir toda a gente num projecto nacional. Há muita gente que ainda não entendeu que já ninguém acredita nessas coisas da direita e da esquerda". Sinais equívocos. Eu estou entre os muitos e muitas que acredita e que sabe que há mesmo "coisas da direita e da esquerda", e que é a clareza de alternativas sociais que é necessária para a luta de hoje.

Uma candidatura de esquerda é a única resposta inequívoca para vencer Cavaco.

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda, professora.
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