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Falta um mês para o SIM ganhar... mas tem de conduzir a campanha para ganhar

Dentro de um mês realiza-se o referendo sobre o aborto. Começa agora a fase final da campanha, que deve ser conduzida com inteligência, com alegria e animação e sobretudo com muita determinação. É por isso útil fazer um curto balanço da situação em que estamos agora, para escolher qual deve ser a estratégia para a vitória do SIM.

E esse balanço é ainda necessário por outra razão complementar. Nos últimos dias, manifestou-se em alguns sectores de opinião um temor pela recuperação do Não, de que é representante o artigo de Ana Sá Lopes no DN do último sábado e que argumenta que o Sim vai perder votos por cada dia que passar. Os números parecem dar-lhe razão, porque o Não organiza quinze movimentos e o Sim cinco, e porque o Não tem mais assinaturas. Mas parece-me que a razão não dá razão aos argumentos derrotistas.

Na minha opinião, a contabilidade dos movimentos e das suas assinaturas é irrelevante e esconde os factos mais importantes e os desafios mais difíceis: o que representam os movimentos na sociedade. O Não conseguiu assinaturas em grande quantidade porque sabe que, hoje, a sua posição na sociedade é muito mais isolada do que em 1998. E tem uma campanha milionária - com mais outdoors do que o PS, que é o partido com maior financiamento público. Nenhuma dessas vantagens lhe dá vantagem decisiva no terreno da campanha.

Pelo contrário, o que a pré-campanha demonstra é que o campo do Não se restringiu e que o campo do Sim se alargou e muito.

É no campo do Sim que há uma maior transformação. O PS em 1998 defendia o Não e o Sim, e o seu secretário-geral era pelo Não - agora são pelo Sim. O PSD fez campanha pelo Não - agora, vinte deputados do PSD, a sua líder em Lisboa e vários ex-governantes estão activamente empenhados na campanha do Sim. Existe o Bloco de Esquerda que não existia em 1998 e que é uma força determinante nesta campanha. Surgiram vários movimentos que articulam estas redes de convergência. Afirmou-se um movimento de profissionais de saúde, que levanta o problema fundamental da saúde pública. Muitos católicos tomam posição pública pelo Sim. Todos fazem campanha e sabem que a campanha se ganha na rua e no argumento. Estas são algumas das vantagens que o Sim já ganhou na pré-campanha.

Mas há ainda uma outra vantagem e essa é mais importante. É que o debate do referendo está agora concentrado na pergunta: deve ou não o aborto ser despenalizado, ou seja, deve ou não ser alterado o Artigo 140 do Código Penal que prevê penas de prisão até três anos para a mulher que aborta. Esse tem sido o debate na sociedade, porque é precisamente sobre isso que as pessoas vão votar. É o argumento que responde à pergunta. É o argumento que diminui a abstenção, porque co-responsabiliza todos, homens e mulheres. É o argumento que ganha o referendo e a que o Não nunca consegue responder.

E é por sentirem a sua fragilidade que os movimentos favoráveis à prisão das mulheres procuram criar diversões, como o debate acerca dos impostos, mesmo que este debate já tenha implícito o reconhecimento da sua derrota no referendo - só se discutem os usos dos "meus" impostos se se constata que o Sim ganhou. E é um argumento muito frágil, pois o Não pretende evitar o gasto de impostos mantendo uma lei que condena as mulheres a um julgamento em que enfrentam três anos de prisão, uma curiosa forma de resolver o problema fiscal.

O Sim pode ganhar e tem de ganhar. Para isso precisa de determinação. Precisa de ocupar a rua. Precisa de manter o seu argumento. Precisa de abrangência e convergência. É em tudo isso que ganhou a pré-campanha e que deve ganhar no dia 11 de Fevereiro.

Sobre o/a autor(a)

Professor universitário. Ativista do Bloco de Esquerda.
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