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As incomodadas vozes do poder

Vinte e oito economistas, muitos deles ex-ministros do PS e do PSD, juntaram-se para proclamar um manifesto para a redução do investimento público. Manuela Ferreira Leite rejubilou, como seria de esperar: afinal, conseguia alguns ex-ministros do PS para a sua política de injecção de dinheiro público nas empresas, mais a redução dos orçamentos nos serviços sociais fundamentais.

Olhando com alguma atenção para a lista, constatam-se no entanto duas contradições chocantes destas incomodadas vozes do poder.

A primeira é que há quem assine o manifesto contra as obras públicas mas tenha sido generosamente pago para fazer estudos e projectos para cada uma dessas obras.

A segunda, e porventura ainda mais grave, é que estes ex-ministros, todos juntos, estiveram 39 anos à frente da Economia ou das Finanças, mais 8 anos à frente do Banco de Portugal, 47 anos no controlo da política económica. Por isso, estes signatários foram os mandantes da economia. Tudo passou por eles. Surpreende por isso que se queixem da política que fizeram ou das decisões que tomaram.

Foi em resposta a estas contradições que vários universitários apresentaram um texto alternativo (Leia aqui o documento integral). A sua resposta é muito evidente: é preciso virar a política económica para o combate ao desemprego.

O desemprego, como é demonstrado no texto, custa num ano mais do que todas as grandes obras previstas para os próximos 15 anos. Numa palavra, o problema da economia portuguesa não são as obras, é o desemprego. Não é o investimento público, é a crise social.

Concordo com esse argumento e apoiei este texto alternativo. Creio mesmo que o grande debate político de hoje é precisamente este: atacar o desastre económico e vencê-lo.

Sobre o/a autor(a)

Professor universitário. Ativista do Bloco de Esquerda.
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