You are here

Sociedade civil de pé diante do derrame no Golfo

Activistas norte-americanos realizam protestos contra a incapacidade do governo e da multinacional British Petroleum para lidar com o derrame de petróleo no Golfo do México. Por Matthew Cardinale, da IPS
Manifestação “Mãos Através da Areia” em Santa Mónica, EUA. Foto de Jeff Heusser, FlickR

Nova Orleães, Estados Unidos – O petróleo começou a espalhar-se no mar no dia 20 de Abril, quando a plataforma Deepwater Horizon, arrendada da Transocean, que tem sede na Suíça, explodiu e afundou.

Na cidade de Nova Orleães foi realizada uma Cimeira de Emergência do Golfo para estruturar uma resposta à crise. Após esta instância, que teve lugar no dia 19 de Junho, com a participação de cerca de cem activistas, foi criado o Comité de Emergência para Deter a Catástrofe Petrolífera no Golfo. “Estamos a organizar uma ampla resistência”, disse à IPS Larry Everest, porta-voz do comité e representante de São Francisco, no Estado da Califórnia. Everest viajou à área atingida.

O objectivo da Cimeira foi reconhecer que a catástrofe é enorme e está fora de controle, “e que a BP e o governo se mostram incapazes e não estão dispostos a deter o derrame nem a proteger o meio ambiente, ou mesmo dizer a verdade”, afirmou Everest. Estima-se que diariamente derramem para o Golfo o equivalente a entre 35 mil e 60 mil barris de petróleo. A BP assegura estar a recolher entre 23 mil e 25 mil barris.

Entre as organizações que participaram da Cimeira para exigir “acções independentes” da sociedade civil estiveram a Survivors Village, World Can’t Wait e Pax Christi. A BP e o governo “dizem à população que estão a fazer tudo o que deve ser feito, mas é uma mentira”, disse Everest. “Não informam as pessoas sobre o total alcance deste horror”, acrescentou. Entre outros acontecimentos, dois dias após a Cimeira, 25 activistas protestaram em Nova Orleães, entregando a um funcionário da empresa uma lista de reclamações. O funcionário nem mesmo se identificou junto aos manifestantes, disse o activista.

No período imediatamente posterior à explosão, representantes da BP responderam perguntas da cidadania nos seus fóruns, acrescentou Everest. Porém, a companhia mudou o formato após ser “crucificada pelo público” e agora os seus porta-vozes dão breves declarações preparadas ou enviam os cidadãos para centros de informação. O Comité de Emergência exigiu que a BP respondesse publicamente às perguntas e a empresa concordou. Pelo menos nesse fórum a companhia respondeu durante 40 minutos, disse Everest.

“Tentam impedir acções e uma consciencialização em massa. Trata-se de relações públicas e controle de danos. Estas reuniões abertas são sessões de propaganda e desinformação quanto a estarem a fazer tudo e lamentarem muito. São fachadas”, disse Everest. Além disso, os activistas realizam manifestações em todo o país, inclusive em cidades não directamente afectadas pelo vazamento. As organizações Codepink e Sierra Clube convocaram para o dia 19 de Junho um dia de protestos nacionais, chamado de “Cru Despertar”.

Na cidade de Atlanta, uma dezena de activistas reuniu-se num posto de combustíveis da BP. Muitos eram jovens sem filiação a nenhuma organização. Outros eram membros do Partido Comunista Revolucionário. Carol Coney, uma da organizadoras do protesto, disse que o vazamento é “terrorismo ambiental e económico”. Para o activista transgênero Oliver Howington, a “BP tem de ser apontada como única responsável pelo esforço de limpeza”, acrescentando que “este é um excelente exemplo de como as corporações e o governo trabalham juntos para possibilitar desastres ambientais como este. O governo os deixou sem regulamentação e não vai impor limites”.

Aproximadamente cem mil activistas de todo o mundo realizaram, no dia 26 de Junho, o acto “Mãos Através da Areia”. Nessa ocasião deram-se as mãos por 15 minutos formando uma cadeia ao longo de diferentes praias em oposição à exploração de petróleo no mar.

O que começou como um acontecimento local tornou-se internacional, sendo realizado no Brasil, Alemanha, Austrália, Bangladesh, Belize, Canadá, Coreia do Sul, Costa Rica, Croácia, Dinamarca, Espanha, França, Gronelândia, Holanda, Índia, Irlanda, Itália, Japão, Líbano, Malásia, México, Nicarágua, Noruega, Nova Zelândia, Panamá, Peru, Polônia, Reino Unido, República Dominicana, África do Sul, Suécia e Tanzânia, segundo a Surfrider Foundation.

1/7/2010

(...)

Neste dossier:

Crime ambiental no Golfo do México

O desastre ambiental do Golfo do México é na verdade um crime, porque a BP não tomou as medidas necessárias para evitá-lo, nem tinha planos de contingência. Segundo Naomi Klein, a catástrofe desnuda a arrogância do capitalismo. Dossier coordenado por Luis Leiria.

Uma catástrofe à espera de acontecer…

No coração do derrame provocado pela Deepwater Horizon está a procura do lucro. O derrame no Golfo do México é já, sem dúvida, o pior desastre ambiental na história dos E.U.A. Por Nicole Colson.

Derramamento no Golfo: um buraco no mundo

O desastre da Deepwater Horizon não é apenas um acidente industrial – é uma ferida violenta infligida à própria Terra. Nesta reportagem especial na costa de Golfo, Naomi Klein mostra como o desastre desnuda a arrogância no coração do capitalismo.

Sociedade civil de pé diante do derrame no Golfo

Activistas norte-americanos realizam protestos contra a incapacidade do governo e da multinacional British Petroleum para lidar com o derrame de petróleo no Golfo do México. Por Matthew Cardinale, da IPS

Europa está à mercê de catástrofes como a da BP

A Europa não está preparada para responder a acidentes como o registado na plataforma petrolífera da BP no Golfo do México, tanto a nível de leis - que são insuficientes - como de plano de emergência, que não existe.

A globalização dos crimes petrolíferos

Nenhuma região do mundo tem sido tão devastada por catástrofes ambientais causadas por petrolíferas como o Delta do Níger, onde milhões de pessoas vivem em condições infernais. Por Ricardo Coelho.

BP delineou o percurso do capitalismo transnacional

Entrevistado pela Democracy Now!, Stephen Kinzer, antigo jornalista do New York Times, autor de “All the Shah’s Men: An American Coup and the Roots of Middle East Terror”, analisa o papel da Anglo-Iranian Oil Company no golpe da CIA em 1953 contra o popular primeiro-ministro progressista do Irão, Mohammad Mosaddegh.  

As multas não demoveram os poluidores

O “castigo” atribuído às empresas poluidoras quase não tem impacto. Joshua Frank, co-autor, com Jeffrey St. Clair, da obra Red State Rebels: Tales of Grassroots Resistance in the Heartland, explica porquê.