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Linhas de alta tensão: nem menos nem mais, direitos iguais

A contestação à instalação de linhas de alta tensão em zona urbana volta à rua. Desta vez é Almada que vem ao Largo do Camões dizer ao Ministro da Economia e Inovação que, apesar do rótulo de interesse nacional, os objectivos da REN estão em rota de colisão com a qualidade de vida e os direitos da população.

Este é o primeiro protesto organizado pela Comissão de Moradores de Almada. A sua afirmação enquanto estrutura de luta teve um impulso decisivo com o aparecimento dos postes no horizonte. O que até aqui tinha sido um rumor e a preocupação de alguns, ganhou forma e altura, despertando uma reacção indignada. Além da saída à rua, já se anunciaram novas acções judiciais contra a REN.

A iniciativa acontece a alguns dias da Assembleia Municipal de Almada ser chamada a ratificar a decisão de ceder terrenos do município para a colocação de alguns postes. Esta cedência foi aprovada, na semana passada, pelo Executivo chefiado pelo PCP, que, desta forma, entra em colisão com a posição de militantes e activistas do partido que, noutras zonas do país, têm estado ao lado das populações. Talvez esta contradição ajude a explicar porque é que a Presidente da Câmara se mostrou tão cautelosa, e mesmo irritadiça, face aos pedidos insistentes de apoio por parte das e dos munícipes.

Mas há um outro facto que confere importância à iniciativa: ela surge num momento em que a luta está reforçada pelo primeiro recuo do governo nesta matéria.

Na semana passada, após receber os moradores de Silves, o Ministro da Economia anunciou publicamente que o traçado daquela linha vai ser alterado, indo ao encontro às pretensões da população.

A proposta para o novo traçado não foi mostrada aos representantes do movimento cívico, mas a garantia de que as obras iriam ser suspensas e de que já haveria acordo com a Câmara Municipal de Silves permitem acalentar esperanças. Mais não seja porque, pela primeira vez em quase dois anos, houve alguém do governo a dar a cara perante as populações.

As obras pararam, mas o acordo foi desmentido pela Presidente da Câmara. Aguardam-se desenvolvimentos.

Uma possível cedência do governo, e a consequente vitória do movimento de Silves, abre um precedente, para o qual as populações das zonas afectadas por problemas similares devem olhar, exigindo ser tratadas de igual modo.

Sobre o/a autor(a)

Enfermeiro, doutorando em Saúde Internacional no IHMT/NOVA. Deputado municipal em Sintra, eleito pelo Bloco de Esquerda
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