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"A escolha é entre o salário e o assalto"

No comício que juntou dirigentes do Bloco e da coligação grega Syriza em Lisboa, apelou-se à mobilização social para derrotar as políticas da austeridade.
O comício no jardim de S. Pedro de Alcântara juntou algumas centenas de pessoas. Foto Paulete Matos

"É de uma grande batalha que estamos a falar. E é preciso juntar todas as forças para travar o que está a acontecer", disse Miguel Portas às cerca de 300 pessoas no jardim de S. Pedro de Alcântara, em Lisboa, num comício em que também participaram os deputados bloquistas Francisco Louçã e Rita Calvário e o dirigente da coligação grega Syriza, Dimitris Stratoulis.

O eurodeputado do Bloco acusou os grandes países da UE de fazerem passar a ideia de que "a culpa da crise é dos pobres, dos malandros dos trabalhadores gregos e portugueses que não querem trabalhar".

"Agora exigem um visto prévio aos Orçamentos nacionais. O parlamento português votará um Orçamento de Estado para 2011 sujeito ao visto prévio da França e da Alemanha", prosseguiu Miguel Portas antes de se interrogar. "A que ponto chegámos para que na prática o plano seja de transformar o nosso país e a Espanha e a Grécia em protectorados da sra. Merkel?"

"É preciso derrotar o PEC I e o PEC II para que não tenhamos um PEC III e um PEC IV", alertou o eurodeputado, defendendo que "este é o tempo de globalizar as lutas, de fazer iniciativas comuns para exigir uma Europa não da austeridade, mas capaz de voltar a criar empregos". Miguel Portas anunciou também a proposta do Bloco que será discutida em Estrasburgo para a criação dum Fundo Europeu de apoio às vítimas dos despedimentos colectivos.

Dimitris Stratoulis criticou o plano de "salvamento" da economia grega e disse estar convicto de que os ataques especulativos não irão cessar. "Eles comportam-se como tubarões, quanto mais os alimentam, mais vorazes se tornam", disse o dirigente da Syriza, defendendo em alternativa que o Banco Central Europeu financie directamente os países sob ataque à mesma taxa - de 1% - a que financia a banca comercial.

"O povo grego está a servir de cobaia para o "novo" capitalismo neo-liberal, um capitalismo sem direitos dos trabalhadores nem estado social", acusou Stratoulis, que vê na mobilização dos trabalhadores gregos "uma mensagem de resistência e luta em nome de todos os trabalhadores da Europa". "Esta é a razão porque precisam da vossa solidariedade", conclui o dirigente da coligação de esquerda grega Syriza.

Na intervenção de abertura, Rita Calvário  apelou à luta contra as políticas da austeridade que o governo e a direita querem impor. O apelo à mobilização para o protesto geral convocado pela CGTP no próximo sábado em Lisboa foi comum ao conjunto das intervenções.

A encerrar o comício, Francisco Louçã comentou as medidas anunciadas na manhã de quinta-feira pelo governo, com mais cortes na protecção aos desempregados, e nos apoios à criação de emprego para jovens ou desempregados maiores de 45 anos. "Em cada quinta-feira, reúne em Lisboa uma trituradora social e política que é o Conselho de Ministros", disse Louçã, criticando a convergência entre Sócrates e Passos Coelho, para quem "reduzir o subsídio de desemprego é a grande ideia para responder à crise".

"Quando o primeiro-ministro acabar o mandato, pode orgulhar-se de ter tirado um mês de salário a cada trabalhador enquanto liderou o governo", acrescentou Louçã, somando o corte nos salários previsto no PEC à evolução do seu valor nos últimos cinco anos. "Cuidado com as carteiras. Agora a escolha é entre o salário e o assalto!", exclamou o deputado do Bloco.

Francisco Louçã também comparou as receitas previstas com o aumento do IRS e do IVA em comparação com os bónus e indemnizações milionárias que não pagaram um cêntimo de imposto. "O aumento do IRS dará 500 milhões, o que equivale a 15 Jardins Gonçalves; Mais 300 milhões em IVA, são 30 Paulos Teixeiras Pintos; e os 17 milhões do Iva sobre produtos médicos são 6 Mexias". Ou seja, "nunca tanta gente foi tão explorada para que tão pouca gente ganhasse tanto à custa do sacrifício de tantos", concluiu Louçã.
 

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