Fortes e poderosos, os impérios foram languescendo e naquele torpor do entardecer se puseram a jeito para todas as invasões.
Depois dos impérios escangalhados, desfilaram pelo cano da bota italiana estados e estadistas, aventureiros e artistas, a bota retalhada em lutas fratricidas.
A Itália deu ao mundo os deuses renascentistas. Foi capaz de edificar Florença e outras cidades encantatórias, inexplicáveis, brilhantes, contraditórias.
Napoleão fragmentou-a riscando-lhe o mapa como se de papel quadriculado se tratasse. Garibaldi unificou-a, emprestando-lhe a consistência de país. Mussolini crucificou-a.
Hoje os impérios são outros. A banca de Berlusconi, o AC Milan de Berlusconi, a Media Mediaset de Berlusconi, e todos os outros empórios berlusconianos, ocuparam o solo e a alma italiana, pediram-lhe o voto e venceram.
A Itália foi vencida.
No meio do delírio mafioso e decadente, sob o peso dos canais de lixo televisivo, da pátria italiana jorra agora legislação racista. Em 2009, Berlusconi, o mesmo que anda a fugir à justiça e vai à missa com estardalhaço, aprovou uma lei que exige aos ciganos que inscrevam no seu BI a etnia a que pertencem.
Cheira a estrela de David, amarela e brutal, na Itália de Berlusconi. Cheira a gueto, a xenofobia, a racismo, no país do magnate de todos os negócios.
Há dias, para os lados da biqueira da bota nação, na Calábria, entre o Tirreno e o Jónico, bandos de fascistas, delinquentes, atacaram emigrantes africanos, os escravos deste novo milénio.
Atropelaram-nos, seviciaram-nos, brandindo armas e insultos soezes na inquieta e sórdida noite calabresa.
Admiraram-se depois, os poderes camarários, com a resposta raivosa.
Sonham possivelmente com novas campanhas da Abissínia.