You are here

Voos da CIA: mais de 700 presos passaram por Portugal

Voos da CIAA organização de direitos
humanos britânica Reprieve afirma num relatório que está
demonstrado "inequivocamente que 728 de 774 prisioneiros de
Guantánamo foram transportados através de jurisdição
portuguesa", e que pelo menos 94 voos passaram por território
português, entre 2002 e 2006. O Bloco de Esquerda apresentou já ao Presidente da Assembleia da República um pedido de constituição de uma comissão de
inquérito parlamentar à cooperação do estado português com o transporte de
prisioneiros para a prisão de Guantanamo. 

 

O
PCP anunciou também que vai apresentar um pedido de
inquérito parlamentar. A eurodeputada socialista Ana Gomes diz que o
relatório "esmaga".

O relatório foi feito compilando
e comparando dados obtidos junto das autoridades portuguesas, do
Departamento de Defesa dos Estados Unidos sobre as datas de chegadas
de prisioneiros a Guantánamo e testemunhos de muitos deles.
Segundo a Reprieve, o relatório detalha pela primeira vez os
nomes dos prisioneiros e as suas histórias, e afirma que "pelo
menos em seis ocasiões, aviões de transferência
de prisioneiros voaram directamente da base das Lajes, nos Açores,
para Guantánamo".

"Nenhum destes prisioneiros poderia
ter chegado a Guantánamo - e sido sujeito a seis anos de
abusos - sem a cumplicidade portuguesa, e existem ainda várias
dezenas de homens que poderão enfrentar a pena de morte após
terem sido transferidos pelos Estados Unidos através de
jurisdição portuguesa», afirmou o director-geral
da Reprieve, Clive Stafford Smith.

Smith afirma que Portugal teve um papel
de relevo no amplo programa de transferência de prisioneiros.
Segundo o relatório, "pelo menos nove prisioneiros
transportados através de jurisdição portuguesa
foram cruelmente torturados em prisões secretas espalhadas
pelo Mundo antes da sua chegada a Guantánamo".

Para Clive Smith, "Portugal tem de
levar a cabo um inquérito público e exaustivo e chegar
ao fundo destas violações do direito internacional".

O ministro dos Negócios
Estrangeiros português, Luís Amado, disse segunda-feira,
em Bruxelas, que não tem qualquer informação
sobre o relatório.

Há um ano, o Parlamento Europeu
aprovou o relatório final da comissão temporária,
presidida pelo eurodeputado português Carlos Coelho, que,
durante mais de um ano, averiguou os alegados voos ilegais da CIA na
Europa para transporte ilegal de prisioneiros suspeitos de
terrorismo. O relatório exortou diversos Estados-membros,
entre os quais Portugal, a aprofundar as investigações,
saudando a abertura de um inquérito-crime pelo Ministério
Público português.

A eurodeputada socialista Ana Gomes,
que integrou a comissão temporária do Parlamento
Europeu que averiguou o caso dos voos da CIA, disse à agência
Lusa que não ficou surpreendida, mas que o relatório
"esmaga, porque nunca imaginei que tivesse esta dimensão".

Termos relacionados Política