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Volkswagen Bruxelas

3600 DESPEDIDOS, 12000 SEM TRABALHO
Volkswagen BruxelasA Volkswagen deverá anunciar hoje aos seus trabalhadores da fábrica de Forest, em Bruxelas, a redução de pelo menos 3600 postos de trabalho e a transferência da produção dos VW Golf para a Alemanha. Depois de vinte anos de lutas e de muitos desmentidos, chega finalmente a notícia fatal. Esta decisão é tomada num ano em que a fábrica registou lucros recordes no primeiro semestre, três vezes mais do que no mesmo período de 2005.

Esta decisão é tomada após anos de redução de direitos, de flexibilização em cima de flexibilização das condições laborais, de imensos apoios das autoridades federais e regionais belgas com o intuito de manter os postos de trabalho da indústria automóvel na Bélgica. "Fomos sendo espremidos como um limão durante anos, agora deitam fora a casca", disse um dos trabalhadores que se concentraram à porta da fábrica, em volta de uma enorme fogueira de paletes a arder.

Acções sobem em flecha

Há, no entanto, uma reacção positiva a esta medida: a imediata subida da cotação em bolsa das acções da VW, atingindo o valor mais elevado desde 1998. O cínico pragmatismo dos investidores compreende bem do que se trata, sabe que a remuneração do seu capital fica a ganhar, mesmo se a vida dos trabalhadores e das suas famílias fica a perder.

Impacto devastador na região de Bruxelas

A VW Forest é o maior empregador privado da Região de Bruxelas. Mas o problema é muito mais vasto do que o estrito âmbito interno da fábrica. Segundo alguns economistas belgas, este caso é muito mais grave do que o encerramento da Renault-Vilvoorde em 1997, que resultou no despedimento de 3000 trabalhadores e que arrastou consigo mais 1500 postos de trabalho em fornecedores. Isto para além dos empregos indirectamente afectados, como no sector da restauração e outros serviços locais, muito dependentes dos consumos efectuados pelos milhares de trabalhadores que vão ser despedidos.

Nos últimos anos, a VW tinha reduzido a admissão de novos trabalhadores e tinha atrasado a reforma dos que estavam em actividade. A combinação destes dois factores produziu um envelhecimento da força de trabalho, que agora vai ser dispensada naquela ingrata idade em que é muito difícil encontrar um novo emprego, o que vai agravar ainda mais o impacto previsto.

Na Bélgica estão estabelecidos 4 fabricantes de automóveis: Volkswagen, Ford, Volvo e GM Opel. Com esta decisão da VW, muitos temem que o projecto de fazer da Bélgica um pólo importante desta indústria comece a ser definitivamente posto em causa.

Encerramento a dois tempos

Mas não é ainda o fecho da fábrica, ficando cerca de 1500 trabalhadores e alguma produção de VW Polo, talvez 60 000 unidades, situando-se abaixo do limiar de viabilidade, que segundo alguns comentadores se situaria nas 200 000 unidades. Hoje em Forest produzem-se 194 000 Golf.

Uma das razões para que o eventual fecho completo não se verifique agora, mas seja feito em duas etapas, é que as indemnizações por encerramento são mais elevadas do que as indemnizações por reestruturação. Assim, estes 4000 trabalhadores são indemnizados a este título e recebem menos, e quando decorrer o fecho definitivo, haverá muito menos pessoas a receber a indemnização mais elevada.

E como se trata de uma transferência de produção para outro Estado Membro da União, uma simples reestruturação, os trabalhadores afectados não terão direito ao novo Fundo Europeu de Ajustamento à Globalização proposto por Durão Barroso para apoiar as vítimas das deslocalizações, que deverá estar disponível a partir de Janeiro de 2007.

Que razões para o despedimento?

De certa maneira, não se trata de uma deslocalização, mas sim do seu contrário.

É o retornar da produção á sua origem, pois esta fábrica tal como as da GM (Azambuja) e da PSA (Mangualde) em Portugal não tem prensas, não produzem um produto único, mas apenas foram concebidas para produzir aquilo que as fábricas "mãe" não tinham capacidade de produzir, ou por terem horários mais reduzidos ou pelo crescimento da procura, neste caso concreto esta fábrica sempre produziu o que na Alemanha não havia hipótese de produzir pois apenas se trabalhava 28,8 horas semanais fruto da redução de horário e de salário em cerca de 20% no ano de 1993, na VW.

Agora que os trabalhadores foram obrigados (perante as ameaças de encerramento) a aumentar o horário para 33 horas sem aumento de salário, verifica-se um aumento de capacidade na Alemanha equivalente a outra fábrica, simultaneamente estão a ser abolidos 20% dos mais de 100 000 postos de trabalho da VW.

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