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Venezuela

PATRÕES CONTRA CHARLOT

chaplin_tempos_modernosA maior confederação patronal da Venezuela protesta contra a exibição de um filme de Charlie Chaplin nas fábricas e considera-a “uma provocação”. A reacção apaixonada dos patrões ao facto de o governo de Chávez estar a promover a exibição nas fábricas dos “Tempos Modernos”, de 1936, de Charlie Chaplin como forma de combater os acidentes de trabalho e consciencializar os operários sobre os seus direitos.  a notícia é recente e é do insuspeito Los Angeles Times.  

 

Numa célebre cena dos Tempos Modernos, Charlot fica louco por causa dos movimentos que tinha que fazer na linha de produção e sai para a rua a apertar botões como na fábrica, numa metáfora da exploração e alienação a que o proletariado estava sujeito.
Para o presidente Hugo Chávez e o seu governo socialista, o filme tornou-se um instrumento de consciencialização dos males dos “capitalismo selvagem”. O ministério do trabalho tem exibido o filme para milhares de operários de várias fábricas.
Apesar do filme ser de 1936, há muitos operários que se identificam com as situações do filme. “Os patrões continuam a estimar mais as suas máquinas que os trabalhadores”, afirma, ao Los Angeles Times, Roberto Maldonado, operário de 29 anos numa fábrica que processa mais de 75 000 frangos por dia. “Charlie Chaplin acaba o dia louco, e eu sinto-me assim algumas vezes. Quando vou para casa, estou demasiado cansado para dar atenção à minha mulher e os meus filhos”.
Da parte dos patrões, o entusiasmo pelo filme foi muito pequeno. As quatro maiores associações de patrões queixaram-se formalmente do filme que consideram que “gera ressentimentos” e “demoniza os patrões”.
Um dirigente da Confederação Venezuelana da Insdustria, uma das quatro signatárias, diz que isto é mais uma agressão do governo Chávez aos empresários, um processo que segundo a confederação se tem vindo a agravar desde a falhada tentativa de golpe de Estado de 2002, dirigida pelo "patrão dos patrões" Pedro Carmona. Pela sua parte, o Ministério do Trabalho considera que o filme tem sido um auxiliar precioso no combate aos acidentes de trabalho e na tentativa de diminuir o número negro de 1500 pessoas que morrem por ano neste tipo de acidentes. Para um dirigente do ministério Jhonny Picone, a estratégia passa por alertar os trabalhadores acerca dos seus direitos. Desde que o filme foi exibido mais de 1000 vezes em 14 Estados, o número de acidentes tem diminuído e a pressão para o cumprimento da legislação para a segurança do trabalho aumentado. No entanto, há patrões que consideram que esta legislação põe em causa a “produtividade”. “ Estas leis só provocam ineficiência”, disse um dos dirigentes patronais.
Mas para os trabalhadores, o balanço que fazem deste filme é diferente. O trabalhador da fábrica dos frangos Maldonado a exibição permitiu-lhe reivindicar condições de segurança e ganhou um par de luvas para o seu trabalho.
O metalúrgico Miguel Moreno afirma que “temos mais poder porque sabemos mais” e discutindo com a administração ganhou um par de auscultadores contra o ruído.
Para o historiador do cinema Schikel, isto é uma ironia da história que Chaplin teria apreciado: “ele gostaria de saber que o seu filme continua actual e que a esquerda Latino Americana o considera útil”
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