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Vaticano responde a Pedro Almodóvar

O actor Gael Garcia Bernal no filme Mala Educación Três dias depois do cineasta espanhol Pedro Almodóvar ter criticado numa entrevista o Papa Bento XVI pelas suas posições retrógradas em relação à família e à mulher, o Vaticano respondeu que “Bento XVI não precisa de sair do Vaticano para se dar conta da existência de certos fenómenos sociais”. Almodóvar tinha recomendado ao Papa Bento XVI que “dê uma volta fora do Vaticano e veja como é a família de hoje em dia”.

O cineasta Pedro Almodóvar disse à revista alemã Die Zeit que “é uma loucura não reconhecer de que modo vivem milhões de pessoas. Bento XVI deve reconhecer também as famílias que são diferentes”.

O Vaticano não gostou das declarações de Almodóvar e respondeu na segunda-feira ao realizador de cinema espanhol. O presidente do Tribunal Vaticano e reitor da universidade Lumsa, Giuseppe Dalla Torre, disse que “Bento XVI não precisa de sair do Vaticano para se dar conta da existência de certos fenómenos sociais” e disse que “a Igreja Católica está presente em todos os contextos humanos e certamente conhece melhor como funciona o mundo”. O presidente do Tribunal Vaticano disse ainda que as diferentes formas de família “são casos marginais, se se tem em conta a totalidade do planeta”.

Almodóvar tinha aconselhado Ratzinger a dar “uma volta fora do Vaticano para ver como é a família de hoje em dia” e lembrava que essas famílias incluem “pais separados, travestis, transexuais, freiras doentes com sida”. A família nos seus filmes, disse Almodóvar, “é um grupo de pessoas que se querem e em cujo núcleo há algo de essencial de que todos se ocupam”.

Não é a primeira vez que o realizador, assumidamente homossexual, critica abertamente a hierarquia católica. Em 2003 estreou o filme “La mala educación”, em que denuncia abusos a menores cometidos por padres durante o franquismo. Na altura disse numa entrevista ao jornal El País: “Creio que a Igreja espanhola está a atrever-se a dizer coisas na nossa sociedade que devemos pôr em evidência porque são muito perigosas, como por exemplo associar a emancipação da mulher às mortes e aos maus tratos. É uma das coisas mais fortes que ouvi contra a emancipação feminina.”

O cónego Giuseppe Dalla Torre expressou ainda uma ”dúvida” que lhe suscitaram as declarações de Almodóvar: “Certa cinematografia quer ser um reflexo da sociedade ou, pelo contrário, quer incidir na realidade social para modificar os seus valores éticos e a sua cultura?”

A avaliar pelos seus filmes e pelas suas declarações críticas e polémicas, Pedro Almodóvar já respondeu à pergunta – ele quer modificar a realidade e afrontar o conservadorismo. O seu último filme, Los abrazos rotos, estreia em Portugal a 3 de Setembro.

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