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"Sim" suíço à proibição dos minaretes ataca liberdade religiosa

Centenas de pessoas manifestaram-se após conhecido o resultado "Esta não é a minha Suíça". lê-se no pano. Foto EPAA vitória por 57,5% no referendo surpreendeu os próprios suíços, que verão agora a proibição ser contestada no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos por ir contra a liberdade religiosa.

 

Contra todas as sondagens, a proposta da extrema-direita para proibir a construção de minaretes nas mesquitas islâmicas do país saiu vencedora do referendo, tendo obtido cerca de um milhão e meio dos votos.

As ondas de choque do resultado rapidamente ultrapassaram as fronteiras da Suíça. Para o líder da grande mesquita francesa de Lyon, "trata-se de um voto de intolerância, que vira as costas às bases jurídicas que em todo o mundo garantem a liberdade de religião". Kamel Kabtane apela "a uma reacção de todos os muçulmanos, dos fiéis de todas as religiões e de todos os democratas a nível europeu para impedir que esta votação, contrária aos fundamentos do direito, venha a tornar-se lei."

Do lado da Amnistia Internacional, a condenação do resultado do referendo foi imediata. "A proibição genérica da construção de minaretes viola dos direitos dos muçulmanos na Suíça a manifestar a sua religião. E pode causar estragos duradouros para a sua integração", afirmou o porta voz da Amnistia para a Europa, David Diaz-Jogeix. A AAmnistia considerou em comunicado que este resultado "viola tanto a liberdade religiosa dos muçulmanos residentes no país, como a proibição da discriminação na base de crenças religiosas, tal como estabelecida em diversos instrumentos internacionais de direitos humanos de que a Suíça faz parte".

O porta-voz dos bispos católicos suíços afirmou à rádio Vaticano que o resultado "é um golpe para a liberdade religiosa e a integração", e que contraria, na opinião de Felix Gmür, o Concílo Vatinano II quando afirma que "é lícito para todas as religiões contruir edifícios religiosos, e os minaretes são edifícios religiosos".

Como não podia deixar de ser, os líderes da comunidade muçulmna na Suíça também reagiram mal à votação, por se traduzir num aumento do sentimento anti-muçulmanos no conjunto da população. "O mais doloroso não é a proibição dos minaretes, mas a mensagem transmitida por esta votação", afirmou Farhad Afshar, coordenador das Organizações Islâmicas na Suíça. A comprovar esse sentimento, durante a campanha várias mesquitas foram vandalizadas.

As reacções políticas da esquerda vão no mesmo sentido. Enquanto o Partido Socialista responsabilizou "os meios económicos por não se terem empenhado mais na luta contra a verdadeira caça às bruxas das últimas semanas", os "Verdes" assinalam que "este resultado mostra o quanto os medos difusos foram alimentados, tendo na verdade pouco que ver com a construção dos minaretes ou o exercício pacífico da liberdade de crença".

Calcula-se que vivam na Suíça cerca de 400 mil muçulmanos, dos quais 50 mil serã praticantes. Nas 180 mesquitas do país, apenas quatro têm as torres construídas, embora sem apelos sonoros à oração. Estes quatro minaretes não são postos em causa pelo referendo. Foram também quatro os cantões que rejeitaram esta proposta do Partido Popular Suíço, tendo os restantes 22 apoiado a iniciativa.

Noutros referendos realizados em simultâneo, os suíços rejeitaram a proposta de proibir a exportação de material de guerra e aprovaram mais ajudas financeiras ao tráfego aéreo. Num referendo consultivo em Vaud, um dos cantões suíços, 64% dos eleitores rejeitaram o prolongamento da exploração da central nuclear de Mühleberg.
 

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