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Sócrates tem medo do socialismo
Foram dezenas de debates, vários workshops, concertos e muita festa. No último dia do Fórum de ideias "Socialismo 2007" o ambiente era de grande satisfação entre os participantes, empolgados também pelas intervenções da sessão de encerramento. Francisco Louçã acusou Sócrates de ter "mais medo do socialismo do que um gato tem medo da água fria" e denunciou as anunciadas privatizações da ANA, das Estradas de Portugal e da Rede Eléctrica Nacional que só servem "para garantir lucros de quem não quer fazer negócio mas só quer ter lucros, pagos pelo dinheiro de todos". Sobre a "Actualidade das ideias socialistas" intervieram também a deputada Helena Pinto e o Presidente do Grupo Parlamentar do Partido da Esquerda na Alemanha, Gregor Gisy.
O auditório do IPJ mostrou-se demasiado pequeno para acolher tantos simpatizantres e militantes do BE, visivelmente entusiasmados com as intervenções dos três oradores da sessão de enceramento do fórum de ideias "Socialismo 2007", dedicado ao tema da "Actualidade das ideias socialistas".
"Nenhum outro partido tem uma consciência com tanta imaginação e com todas as portas abertas, juntando todas as áreas da vida, da ciência, da política, da ecologia, da sexualidade, tudo é para ser debatido". Francisco Louçã referia-se à variedade de temas que percorreram todo o programa do "Socialismo 2007", de Brecht a Oscar Wilde, da Inquisição ao Futebol, da Venezuela à democracia digital, do feminismo aos direitos dos animais.
Da satisfação pelo evento realizado durante dois dias pelo Bloco de Esquerda, Francisco Louçã passou de imediato ao ataque. O primeiro alvo foi uma direita que "agora bate os sinos e reúne as tropas pela defesa da propriedade privada". Uma direita "gananciosa e absolutista" mas que ainda não há muito tempo assistiu à sua maior derrota desde o 25 de Abril. Louçã referia-se à vitória do sim no referendo pela despenalização do aborto que mostrou uma "direita fanática que persegue as mulheres pelas decisões que tomam quanto ao seu corpo que é a sua propriedade mais essencial". "Esta é a direita que nos diz que as mulheres podem ter carro, podem ter casa, podem até votar, mas não podem decidir sobre as suas emoções" - esclareceu Louçã"
O coordenador do BE mudou então de alvo e acusou o Governo de Sócrates de estar do lado da grande propriedade privada, realçando que "é aí que se vê a diferença entre o PS e a esquerda socialista que é o Bloco de Esquerda". Louçã denunciou os planos de Sócrates para privatizar a ANA (sendo que o Estado recebe por esta operação um total apenas equivalente aos lucros que a empresa obtém durante três anos), as Estradas de Portugal, a Rede Eléctrica Nacional e o Hospital de Cascais. "Um bom neoliberal ainda vinha dizer para se privatizarem também as prisões" ironizou Louçã depois de sublinhar que "Sócrates entregou interesses a alguns mas que são pagos por todos" e de esclarecer que "não se trata de negócios porque não existe concorrência, garante-se os lucros de quem não quer fazer negócio mas só quer ter lucros".
Louçã criticou ainda Marques Mendes por defender uma descida de impostos, "num país que assiste a um roubo anual de 8 mil milhões de euros não tributados". E referiu-se também ao crescente fosso entre ricos e pobres: "Os 100 portugueses mais ricos detêm um quarto da riqueza nacional. Belmiro de Azevedo tem o equivalente a 300 mil anos do salário médio de um trabalhador".
Sobre a Europa, Louçã avisou Sócrates: "Lembraremos todos os dias ao primeiro-ministro, José Sócrates, a promessa que fez no dia da sua tomada de posse. E diremos que é de muito mau carácter recusar um referendo". E acrecentou que a recusa de um referendo constituirá "uma prova do abuso" sobre os portugueses e "uma diminuição da democracia".
No final da sua intevenção, Louçã afirmou que o Socialismo é a democracia contra o abuso, reivindicando perante a arrogância da propriedade a distribuição da riqueza. "A esquerda socialista é responsabilidade, militância, activismo e combate político. O combate pelo socialismo é estratégia política, comunicação, vontade, emoção, enfim, é a luta pela felicidade."
Gregor Gysi, líder do Grupo parlamentar do Partido da Esquerda (Alemanha), explicou as origens desta formação política. O Partido da Esquerda resulta da fusão entre o PDS (antigo partido comunista da RDA mas que fez a "ruptura total com o estalinismo") e o VASG, um movimento que surgiu a partir do descontentamento causado pelas políticas neoliberais do SPD de Schroeder ("que destriuiu mais o estado social do que os próprios conservadores"), reunindo sindicalistas, social democratas e outras formações da esquerda radical, com uma influência maior na parte ocidental do país. Depois de alguma resistência inicial, estes dois partidos juntaram-se não fosse um ultimato de Oscar La Fontaine: "Só juntos é que eu fico".
O Partido da Esquerda obteve 8,7% nas últimas eleições legislativas e é a primeira grande força política à esquerda do SPD, desde 1949. É o único partido que tomou posição contra a guerra e a participação das tropas alemãs em diversos cenários, e também o único que se opôs ao aumento da idade da reforma na Alemanha dos 65 para os 67 anos, sendo que 67% da população esteve igualmente contra esta medida imposta pela coligação de centro que está no Governo. Gregor Gysi sublinhou ainda a proposta do salário mínimo (na Alemanha não existe) e a exigência do direito de voto para imigrantes.
Na intervenção inicial, a deputada Helena Pinto frisou a necessidade de "contruir alternativa ao neoliberalismo de Sócrates, juntando milhões de vozes", obra que não pode ser feita apenas a nível nacional mas no "quandro europeu e internacional".
A deputada do BE avaliou dois anos de poder do Partido Socialista denunciando os 2 milhões de pobres, o aumento das desigualdades, o crescimento da precariedade laboral que já atinge cerca de 1 milhão de pessoas, e a guerra, dado que "a presença de soldados portugueses a mando da NATO em operações bélicas nunca foi tão grande como hoje".