No sábado, 28 de Julho, as Jornadas das Alterações do Clima estiveram na praia do Furadouro, no distrito de Aveiro. Sob o lema "Riscos sobre a Orla Costeira" abordou-se o problema da erosão costeira e do recuo da costa, factor agravado pela pressão urbanística e imobiliária na faixa litoral e pelas alterações do clima. Ao início da tarde realizou-se a acção "Medição da Erosão no Litoral", desenrolando-se uma fita métrica gigante desde a linha de costa para o interior, simulando o avanço do mar nos próximos 15 anos à taxa média anual verificada neste local: Furadouro é o local do país com a maior taxa de recuo da costa, com o valor médio de 9 metros ao ano. Na sexta, 27 de Julho, as Jornadas estiveram em Sines com uma acção sob o lema "Sines: as Emissões que nos Sufocam". Clique para ver fotogaleria
A marcação do avanço do mar em cada um desses anos, permitiu ter a percepção de como - a manter-se esta taxa média anual - poderá bastar apenas uma década para a praia do Furadouro desaparecer. E o avanço do mar nos anos seguintes significará a inundação de uma zona residencial-turística e de lazer hoje bastante frequentada.
A iniciativa foi acompanhada durante todo o dia por uma exposição no paredão da praia do Furadouro, que permitiu ilustrar os efeitos da erosão costeira neste local ao longo das últimas décadas. Comparando fotos de épocas diferentes, foi possível constatar como a linha de costa tem recuado a um ritmo elevado e como a ocupação imobiliária tem vindo a exercer uma pressão cada vez maior e avassaladora na frente litoral. Também o resultado ineficaz das obras de engenharia pesada - como os pontões - que têm sido feitas para proteger a costa foi evidenciado: a erosão costeira tem-se tornado muito mais grave a sul.
No final realizou-se um comício de rua com a participação de Nelson Peralta (da distrital do BE-Aveiro e membro da Coordenadora Nacional de Ambiente do Bloco) e Alda Macedo.
Nelson Peralta alertou para o problema da grave erosão costeira que se abate sobre todo o litoral do país, com maior significado no Furadouro, mas também em Vagueira-Costa Nova e Espinho-Cortegaça. Referiu que os interesses imobiliários, que têm contado com o apoio das câmaras e até do Governo, não se coibem de ocupar as zonas naturais de defesa da costa, agravando a erosão e o recuo da costa. Como exemplo referiu a construção do Sportsforum em plena duna terciária, numa zona que foi desafectada de Reserva Ecológica Nacional e do Regime Florestal.
Alda Macedo falou de como as alterações climáticas colocam sérios riscos ao litoral. A subida do nível do mar vai agravar a erosão costeira, já de si hoje bastante grave, colocando em perigo pessoas e bens. Falou ainda de como a construção sobre a faixa litoral, em oposição aos planos de ordenamento, é um exemplo dos erros que têm sido cometidos na costa. Referiu que é preciso prevenir e não remediar: não permitir mais construção no litoral, deslocalizar algumas infra-estruturas e equipamentos em locais de risco para zonas adequadas, e realizar obras de protecção da costa que tenham em conta a dinâmica própria dos ecossistemas costeiros. Remediar tem sido aquilo que tem sido feito ao longo dos anos, à custa de muitos milhões que apenas resolvem o problema no curto-prazo quando não o agravam a prazo.
Na sexta, 27 de Julho, as Jornadas das Alterações do Clima estiveram em Sines, no distrito de Setúbal. Sob o lema "Sines: as Emissões que nos Sufocam" abordou-se o problema das emissões atmosféricas e da poluição devido a um modelo centralizado de produção de energia e de desenvolvimento industrial insustentável.
À noite, pelas ruas do centro histórico de Sines, realizou-se o desfile "A Poluição está na Rua" com um cabeçudo verde sufocado de tanta poluição e alguns vestidos de fato protector branco e máscaras anti-emissões.
A acção alertou para o problema da poluição que afecta a saúde e qualidade de vida das populações locais e contribui decisivamente para as alterações climáticas. A central termoeléctrica de Sines é uma das mais poluentes da Europa e há mais de 30 anos que esta localidade sofre com problemas ambientais derivados da actividade industrial. Denunciou-se também as intenções de querer continuar a instalar aqui mais e mais indústrias poluentes ligadas aos combustíveis fósseis.
Fotos das Jornadas das Alterações do clima no Furadouro