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O pleno europeu nos Prémios Nobel científicos

CERN, o maior laboratório de física de partículas do mundoOs prémios Nobel científicos (medicina, física e química) de 2007 premiaram a 100% investigadores europeus... o acontecimento teve o mérito de relançar a discussão sobre a evolução da investigação científica na Europa ... Serão estes indicadores da recuperação da actividade científica europeia?
Artigo de Rui Curado Silva, investigador no Departamento de Física da Universidade de Coimbra

Os prémios Nobel científicos (medicina, física e química) de 2007 premiaram a 100% investigadores europeus: dois alemães, dois britânicos, um francês e um italiano. No entanto entre os laureados, o italiano Mario Capecchi e o britânico Olivier Smithies, Nobel da Medicina, exercem o seu trabalho de investigação nos EUA confirmando a actualidade do problema da fuga de cérebros para a América do Norte. No entanto, o acontecimento teve o mérito de relançar a discussão sobre a evolução da investigação científica na Europa sabendo, por exemplo, que recentemente a produção de publicações científicas europeias ultrapassou vertiginosamente a americana. Serão estes indicadores da recuperação da actividade científica europeia?

Se analisarmos o quadro de honra dos Nobel atribuídos nos domínios científicos deparamos com dois períodos bem distintos: o primeiro vai até 1939 e o segundo vai desde de 1945 até aos dias de hoje. O quadro mostra que até 1939 a esmagadora maioria dos Nobel foram atribuídos a investigadores europeus que exerciam a sua actividade em universidades e em institutos europeus. Com o início da perseguição de intelectuais e de cientistas pelos regimes fascistas europeus, muitos destes refugiaram-se nos EUA, sobretudo os cientistas oriundos de famílias judaicas como Albert Einstein ou Enrico Fermi, ambos laureados com o Nobel da Física. A Segunda Guerra Mundial encarregou-se de destruir o resto da ciência europeia: os institutos, as universidades e as empresas de ponta. A partir de 1945 o quadro de honra dos laureados mostra uma esmagadora atribuição de prémios Nobel a instituições americanas, embora uma boa parte destes prémios tenham sido atribuídos a cientistas europeus que se refugiaram nos EUA.

Para além destas constatações óbvias, o quadro de honra mostra claramente outro facto curioso. A construção do CERN (correntemente apelidado de Laboratório Europeu de Física de Partículas), um dos maiores investimentos científicos concretizados na Europa, teve como consequência directa a atribuição de 8 prémios Nobel da Física à instituição desde 1954. Este exemplo diz-nos que projectos transnacionais em matérias na vanguarda do conhecimento são uma fonte de actividade científica de excelência cujas aplicações tecnológicas poderão contribuir significativamente para o progresso económico e social dos cidadãos. Possivelmente, uma das soluções para a recuperação da actividade científica europeia poderá passar por uma aposta mais forte em projectos internacionais do cariz do CERN.

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