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Ministro venezuelano afirma: “Chávez tem que entender que a reflexão é de todos”

Vladimir Villegas, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Venezuela"Tem
que haver no chavismo a necessária reflexão para encontrar o
caminho da crítica. Prejudica-nos mais o silêncio hipócrita do que a crítica" afirma o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros
da Venezuela, Vladimir Villegas, em entrevista ao jornal El Nacional, conduzida por Antonio Fernández Nays,
publicada a 03/12/2007. Villegas revela que discordou do artigo 337 proposto na reforma e critica
também o processo de constituição do PSUV.

Que
primeira leitura pode fazer do processo do referendo de Domingo passado?

Em primeiro lugar, demonstrou-se que
temos um poder eleitoral que funciona. Porventura demorou um pouco mais, mas
demonstrou que pode reflectir a mensagem do eleitor. É um grande ensinamento
para a oposição. A lição de que os atalhos não compensam e também para nós
deixa algumas lições.

Que
lições dá ao chavismo?

Em princípio, que não se pode subestimar
a dissidência interna, o debate de ideias. Tem que haver no chavismo a
necessária reflexão para encontrar o caminho da crítica. Prejudica-nos mais o
silêncio hipócrita do que a crítica.

Qual
é a principal razão para a derrota da proposta de reforma constitucional?

Não foram digeridos os conteúdos, não
soubemos vender o modelo socialista. As pessoas associaram a proposta a
questões negativas. Demonstrou-se que esta sociedade não está madura para o
socialismo.

Ou
para o socialismo do século XXI?

Não se pode propor à sociedade um modelo
que está em discussão. O
chavismo em bloco não se mobilizou, não por recusa ideológica, mas isso é grave;
o outro elemento é o voto de castigo, pelo que temos visto muita gente cegou
com o poder, sobretudo governadores e presidentes de câmara.

Quisemos meter um acelerador demasiado
intenso na reforma e adiantar as mudanças. De aqui em diante essa é uma
reflexão colectiva, sem estar a procurar bodes expiatórios, cada um  sabe a responsabilidade que tem em tudo isto;
se tivessem havido espaços internos para a discussão muitas coisas teriam
mudado.

Se
não souberam vender o modelo socialista trata-se também de um problema
comunicacional.

Há que ter em conta que fomos submetidos
a uma batalha mediática e perdemo-la, não soubemos explicar os nossos pontos.
Essa é parte de uma discussão que tem de haver, porque não estamos claros, mesmo
entre nós, e existem várias visões de socialismo que não temos tratado.

Discute-se
alguma coisa dentro do chavismo?

Isso de que aqui não se discute nada
devia acabar. Nós, como revolucionários, temos muitas coisas para discutir.
Chávez tem que entender que a reflexão é de todos. Tem que escutar as nossas
reflexões. O Presidente necessita de estar acompanhado de pessoas que lhe digam
as coisas.

Mas
ele não escuta.

Se não escuta esse é outro problema. Ele
necessita de ter uma direcção política.

E
não a tem?

Não estou seguro que a tenha.

Na
derrota houve também um problema de máquina, certo?

O PSUV é outro dos temas que deve ser
discutido. Um partido não pode nascer tendo como sua primeira estrutura um
tribunal disciplinar. Isso é como fundar um hospital e a primeira coisa que se
constrói é a morgue.

Ou
seja, serão necessárias reorganizações.

Impõem-se reorganizações internas. O PSUV
terá que escolher os seus dirigentes da forma mais aberta e democrática
possível. As pessoas dirão quem querem. Esta é uma derrota salvadora para a
revolução, porque funciona como um alerta para as vulnerabilidades que temos.
Quem tenha passado por isto (pela derrota) sabe o que isso significa. Também se
aprende com ela. A prepotência não pode ser uma ferramenta chavista.


muita prepotência no chavismo.

E na oposição também. Se fizerem
uma leitura incorrecta deste triunfo, podem chegar a conclusões equivocadas. A oposição
continua a ser uma força importante, mas deve resolver as suas contradições
internas e não pode enviar uma mensagem de prepotência. A derrota deveu-se
basicamente à desmobilização do chavismo.

Que
parte do projecto não agradou ao chavismo?

Eu, por exemplo, tive a minha posição em
relação ao artigo 337 (o direito à informação deixa de figurar na lista
de direitos que não podem ser suspensos ou restringidos) e expressei-a com
risco de que me pusessem o labéu de traidor, de vendido. Isso é uma conquista
do povo. E há muitos outros temas que não foram aceites pelo próprio
conglomerado chavista. O primeiro bloco era mais coerente, mas o segundo teve
muitos erros de forma, as disposições transitórias geraram muita incerteza. Mas
para o chavista é muito difícil votar contra Chávez.

A oposição cresceu um
pouco, com os votos dos chavistas não conformados.

Temos que chegar aos sectores médios da
população e governar para eles. Não há quatro milhões de oligarcas, como disse
Fidel Castro. Sobre tudo isso temos que conversar. Que se entendam estas
observações sem nenhum preconceito. E não comecemos a satanizar as críticas.

Está-se
a expor com estas declarações.

Bom, camarada, alguém tem que dizer isto.
O tremendismo não nos ajuda nem é bom. Nem podemos conviver com o ódio, devemo-nos
a uma política destinada à inclusão, sem que com isso se renuncie às
transformações.

Programas como La
Hojilla
(programa
televisivo) não são o melhor exemplo de inclusão ou de convivência.

Isso está entre as coisas que teremos que
rever. Isso tem que estar em discussão, ainda que haja muita gente que goste
dele.

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