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México

CAPITAL MEXICANA PARALISADA

Manif MéxicoMilhares de apoiantes do candidato de esquerda Andre López Obrador ocupam as ruas da capital do México denunciando a fraude eleitoral nas eleições presidenciais e exigindo a recontagem dos votos. Esta nova forma de protesto foi anunciada na manifestação do fim de semana passado que reuniu mais de um milhão de apoiantes. O tribunal deliberará sobre o resultado das eleições a 6 de Setembro. Para compreender a situação, leia-se este artigo do director do Le Monde Diplomatique:

 Uma fraude massiva. E indiscutível. Sr. José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia admitiu-o.

portada-06Os vinte cinco ministros dos negócios estrangeiros da União Europeia exprimiram a sua “grave preocupação”. “É importante que nós transmitamos da forma mais clara possível a inquietação de todos os Estados membros sobre o resultado das eleições presidenciais”, afirmou o ministro holandês dos Negócios Estrangeiros.
Os Repórteres Sem Fronteiras lembram que “esta eleição acontece depois de quatro anos de degradação contínua da comunicação social no país”.
Em Washington, personalidades como Sr. Colin Powell, Henry Kissinger e Zbigniew Brzezinski afirmaram que os Estados Unidos não podiam reconhecer os resultados oficiais.
O National Democratic Institute (NDI), presidido pela Srª Madeleine Albright, antiga secretária de Estado; a Freedom House, dirigida por M. James Woolsey, antigo patrão da CIA; o American Entreprise Institute, dinamizado pelo ex-presidente Gerald Ford; ou ainda a Open Society Institute, conduzida pelo Sr. George Soros, denunciaram “manipulações massivas” e pedem sanções “sanções económicas”. O senador Richard Lugar, presidente da comissão de negócios estrangeiros do Senado e enviado especial do presidente George W. Bush, não hesitou em falar abertamente, ele também, de “fraudes”: “é claro que houve um programa vasto e consertado de fraudes no dia das eleições quer sob a direcção das autoridades, quer com a sua cumplicidade”.
Esfrega os olhos? Pergunta como é que estas declarações a propósito das recentes eleições presidenciais no México puderam-lhe escapar? Tem razão para estar perplexo. Nenhuma destas personalidades ou instituições citadas aqui denunciou o que acaba de suceder no México. Todos os comentários relatados – autênticos – são sobre a eleição presidencial de 23 de Novembro de 2004...na Ucrânia (1).
A “comunidade internacional” e as suas habituais “organizações de defesa da liberdade”, que foram tão activas na Sérvia, na Georgia, na Ucrânia e recentemente na Bielorrússia, ficaram mudas perante o “golpe de Estado eleitoral” que se cometeu sob os nossos olhos no México (2). Imaginemos a confusão mundial, se, em vez disso, esta mesma eleições tivesse acontecido, por exemplo, na Venezuela e o vencedor – por uma diferença de só 0,56% dos sufrágios – tivesse sido ...o presidente Hugo Chávez.
No escrutínio mexicano de 2 de Julho opunham-se dois candidatos principais: Felipe Calderón, do Partido da Acção Nacional (PAN, direita católica no poder), declarado vencedor (provisório) das eleições pelo Instituto Federal Eleitoral (IFE), e Andrés Manuel López Obrador, do Partido da Revolução Democrática (PRD, Esquerda moderada).
Bem antes do início da campanha, era claro para o presidente Vicente Fox (PAN) e as autoridades no poder que López Obrador com o seu programa de combate à pobreza era o candidato a abater. Por todos os meios. Desde 2004, uma manobra, recorrendo a vídeos anónimos complacentemente divulgados pelos canais televisivos Televisa e TV Azteca, próximas do poder, tentava desacreditar o candidato López Obrador. Em vão.
No ano seguinte, sobre o pretexto forjado do não cumprimento das normas legais para a construção de uma Estrada para um hospital, ele foi condenado e destituído do direito de apresentar-se às eleições, Massivas manifestações de apoio obrigaram as autoridades a reconsiderar e a restabelecer os seus direitos.
Depois disso, esta empresa de demolição prosseguiu. E atingiu um grau cada vez mais delirante durante a campanha eleitoral (3). Tanto mais que um vento de pânico sopra sobre as oligarquias latino-americanas (e sobretudo a administração Bush) depois de que a esquerda triunfa (quase) em todo continente: na Venezuela, no Brasil, na Argentina, no Chile, na Bolívia... e que as novas alianças internacionais já não excluem Cuba (4).
Num tal contexto, a vitória de López Obrador ( o tribunal eleitoral decidirá no próximo 6 de Setembro) teria consequências geopolíticas muito sérias. Que não querem nem o patronato nem os grandes medias mexicanos. Nem Washington. A nenhum preço. Nem que seja preciso sacrificar a democracia. Mas López Obrador e o povo mexicano não disseram a sua última palavra.

(1) A ideia de comparar as reacções às eleições ucranianas e do méxico é de James K. Galbraith, no “Doing Maths in Mexico”, The Guardian, Londres, 17 de Julho de 2006.

(2) Sobre a existência e a amplitude das fraudes, ler, por exemplo, o relatório de 17 de Julho de 2006 do Centro de Direitos Humanos Fray Bartolomé de Las Casas.

(3) Sobre a violência dos ataques, ler John Ross, “All Against López Obrador”, Counterpunch, 6 de Abril de 2006.
 
(4) Ler Bernard Cassen, « Une nouvelle Amérique latine à Vienne », Le Monde diplomatique, Junho 2006.

 

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