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Leituras do Manifesto Comunista fazem sucesso na Alemanha

Ilustração inspirada em famosa gravura de Marx, mas fazendo o sinal de vitóriaO actor Rolf Becker tem-se dedicado a realizar sessões de leitura públicas do "Manifesto do Partido Comunista", escrito por Karl Marx e Friedrich Engels em 1848, por toda a Alemanha. Cada sessão de leitura demora cerca de duas horas, e a recepção tem sido a melhor: o leitor costuma ser premiado com ovações de pé.
Por João Alexandrino Fernandes, de Tübingen, Alemanha, para o Esquerda.net

Segundo um artigo publicado no semanário Freitag, o actor alemão Rolf Becker tem-se dedicado à iniciativa de realizar sessões de leitura públicas do "Manifesto do Partido Comunista", escrito por Karl Marx e Friedrich Engels em 1848. Cada sessão de leitura demora cerca de duas horas, durante os quais Becker transmite ao público partes do conteúdo do texto.

A recepção a esta iniciativa tem sido a melhor: na leitura realizada no centro do "mundo Daimler", em Stuttgart-Untertürkheim, o leitor é premiado pelos mais de 250 trabalhadores ouvintes, no final, com ovação de pé. Mas não é uma novidade para ele: Rolf Becker diz que tem sido assim em todo os lugares onde lê o Manifesto.1

E com razão. 150 anos depois o texto não perdeu a actualidade. É precisamente esse aspecto que, cada vez com mais evidência, se vai impondo a todos os que o procuram. Que numa organização social capitalista os trabalhadores dependem do facto de encontrarem trabalho para viver e apenas encontram trabalho enquanto o seu trabalho aumenta o capital, é uma constatação tão verdadeira há 150 anos como o é hoje.

E que os trabalhadores ainda são uma mercadoria como qualquer outra, expostos à concorrência e às oscilações do mercado, haverá alguém que verdadeiramente pretenda discutir esta realidade?

E não descrevia já o Manifesto em 1848 com uma enorme clareza aquilo que hoje em dia se chama globalização, enquanto mostra que a burguesia, na busca constante de colocação dos seus produtos, em virtude do gigantesco e constante aumento das suas próprias forças produtivas, se tem de espalhar por todo o globo e em todo o lado estabelecer ligações, em todo o lado explorar as matérias primas que necessita, independentemente do lugar onde depois essas matéria-primas são trabalhadas e os produtos vendidos, criando uma dependência das nações umas das outras? E dessa forma, obrigando todas as nações a adoptarem o seu modo de produção, sob pena de serem destruídas, em suma, criando um mundo à sua própria imagem?

Não é exactamente essa realidade que observamos, quando sob o nome e a capa da transferência da liberdade e da democracia para outros países o que realmente se transfere é o modelo de negócios capitalista, acompanhado da exploração de recursos naturais, dos recursos humanos, da posição estratégica dos países para os quais se diz transferir essa liberdade e essa democracia? Não foi assim na América do Sul, não é assim em África, no Iraque, no Afeganistão?

Tem sido nestes últimos anos, durante a obscena orgia neoliberal cuja factura nos é agora apresentada, considerado como um acto demonstrativo de profundidade intelectual e mesmo de elevado sentido de responsabilidade a recusa da terminologia marxista para a análise dos problemas sociais. Usou-se mesmo uma palavra destinada a exterminar tais veleidades logo à partida, chamando-se-lhe depreciativamente a "vulgata marxista". Mas, como mostra o exemplo dos trabalhadores alemães, quem ainda quiser ler ou ouvir ler o Manifesto do Partido Comunista de 1848 compreenderá que "vulgata" é aquilo que se argumenta contra este texto, e não o conteúdo do texto. E cada vez mais ressaltará à evidência que, queiram os seus detractores ou não queiram, Marx e Engels tinham há 150 anos razão, e continuam a ter.

João Alexandrino Fernandes

1„Über das Bestehende hinausdenken", por Burga Kalinowsy, Freitag 3/2009, de 16 de Fevereiro.

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