You are here

Israel acusado de usar bombas de fósforo

Disparos de fósforo branco sobre Gaza"Não há dúvidas de que Israel está a usar bombas de fósforo. Está a violar de forma flagrante a quarta Convenção de Genebra", afirmou Raji Sourani, presidente do Centro Palestino para os Direitos Humanos em Gaza. "Não é a primeira vez que documentamos o uso deste tipo de armamento proibido contra a população civil de Gaza", disse Sourani à IPS.

Por Mel Frykberg, de Ramallah, Palestina, para a IPS

A organização Human Rights Watch (HRW) confirmou as acusações de Sourani numa declaração difundida na sexta-feira passada. Os seus investigadores disseram ter visto "múltiplas explosões no ar de fósforo branco disparado por artilharia sobre a cidade de Gaza".

"Estive perto da fronteira nos últimos dias observando o disparo de artilharia de projécteis com fósforo branco para os acampamentos de refugiados", disse ao canal de TV francês 24 Marc Garlasco, analista da HRW.

Ann Sophie Bonefeld, do Comité Internacional da Cruz Vermelha em Jerusalém, foi mais cautelosa. "Não fomos capazes de confirmar se Israel está a usar bombas de fósforo em Gaza", disse à IPS.

Chiara Stefanini, porta-voz da Organização Mundial de Saúde em Jerusalém disse à IPS: "Não temos provas de que se está a usar fósforo branco neste momento. Ainda é muito cedo para comentar."

Imagens aterradoras tomadas por aviões militares israelitas de nuvens brancas cobrindo os céus de Gaza são difundidas pelo canal de notícias pan-árabe Al Jazeera todas as noites.

O porta-voz do governo de Israel, Mark Regev, não confirmou à Al Jazeera se o seu país estava ou não a usar armas polémicas, e passou o tema para a porta-voz das Forças de Defesa Israelitas, Avital Leibovich, durante uma entrevista no sábado.

"Não discutimos as armas que usamos. Mas posso assegurar-lhe que não usamos nenhuma arma que esteja proibida pelo direito internacional. Há outras nações que usam bombas de fósforo, e temos o direito de não fazer comentários sobre isto", disse Leibovich à Al Jazeera.

A Grã-Bretanha e os Estados Unidos usaram bombas de fósforo no Iraque, particularmente durante a ofensiva contra a cidade de Faluja.

O Tratado de Genebra de 1980 estipula que o fósforo branco não deve ser usado como arma em áreas civis, mas não há uma proibição geral no direito internacional sobre o seu uso como nuvem de fumo de cobertura ou para a iluminação em batalha.

Esta não é a primeira vez que Israel é acusado de usar bombas de fósforo em áreas civis densamente povoadas em Gaza. Há vários anos, médicos em Gaza informaram ter visto estranhas feridas nas vítimas dos ataques dos aviões espiões não tripulados israelitas, que constantemente vigiam Gaza.

As lesões consistiam em muitos pequenos furos, em geral invisíveis aos raios X, e queimaduras tão graves que muitos tiveram de sofrer amputações.

Habas Al-Wahid, chefe do Hospital Shuhada Al-Aqsa em Gaza, disse nessa altura aos jornalistas que vários dos feridos tinham perdido as pernas "como se tivesse sido usada uma serra para cortar o osso". Mas não houve evidência de metralha comum nas feridas nem perto delas.

No hospital Shifa da cidade de Gaza, o porta-voz Juma Saka disse que, depois de examinar as feridas, os médicos encontraram um pó nos corpos das vítimas e nos seus órgãos internos. As partículas microscópicas eram de carbono e de tungsténio.

"O pó era como uma metralha microscópica, e foi isto provavelmente o que causou as feridas", disse Saka.

Depois das denúncias dos médicos de Gaza, uma equipa de investigação de jornalistas italianos do canal de televisão RAI News 24 colheu amostras de solo e levou-as para a Itália.

Carmela Vaccaio, médica da Universidade de Parma, examinou as amostras e encontrou uma alta concentração de carbono, assim como de cobre, alumínio e tungsténio, cuja presença considerou ser estranha.

Vaccaio disse no seu relatório que "estes achados poderiam estar em linha com a hipótese de que a arma em questão era um explosivo de metal denso inerte, ou DIME".

Segundo especialistas militares, o DIME é um projéctil coberto de carbono que se faz em pedaços quando sofre um impacto, transformando-se em minúsculos estilhaços. Quando sofre um impacto acciona um explosivo que dispara uma rajada de uma combinação de metal pesado de tungsténio, como cobalto, níquel ou ferro.

O metal é chamado de "inerte" porque não participa da explosão, e não porque seja química ou biologicamente inerte.

Israel também foi acusado de usar fósforo contra objectivos civis na guerra do Líbano, em 2006. Inicialmente negou a acusação, mas teve de aceitá-la depois de uma investigação realizada pela mesma equipa de jornalistas italianos e de ter provas esmagadoras contra si.

"Apesar de a comunidade internacional poder estar horrorizada pelo uso do fósforo, passa por alto o facto de centenas de bombas de meia tonelada serem lançadas sobre objectivos civis em Gaza todos os dias", disse Sourani à IPS.

12/1/2009

Termos relacionados Internacional