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Iraque: Mais de 2,5 milhões esperam pelo retorno

Criança iraquiana exibe certtificado de refugiado em Damasco. Foto de catholicrlf, FlickRO governo do Iraque e a comunidade internacional devem facilitar condições de segurança para o retorno dos 2,6 milhões de refugiados, alertou a organização especializada Refugiados Internacional (RI).

Por Marina Litvinsky, de Washington para a IPS

Apesar de alguns dados desanimadores, o governo em Bagdad ainda não calculou de modo realista a sua capacidade de absorver retornados, segundo o relatório "Iraque: Evitando o ponto de não-retorno". A RI concluiu que grande parte dos retornados tem dificuldade de encontrar moradia, energia eléctrica, água, emprego e acesso à saúde.

"Há uma imensa pressão sobre os refugiados iraquianos para que retornem. O problema é que voltam para localidades que sofreram limpeza étnica e com fracos serviços estatais", disse o presidente da RI, Ken Bacon. O estudo baseia-se numa pesquisa in loco da organização nas cidades de Bagdad, Eskanderia, Faluja, Karbala e Hilla para analisar a situação humanitária dentro do Iraque. A missão da RI concluiu que as organizações de ajuda carecem de um panorama completo da situação, e que as restrições impostas ao pessoal da Organização das Nações Unidas deveria adaptar-se às condições reais de segurança em cada região iraquiana.

"As restrições são irracionais porque a segurança melhorou", disse Bacon. "Ninguém diz que o Iraque é completamente seguro, mas há medidas que podem ser tomadas para garantir a segurança do pessoal da ONU e o acesso da ajuda aos sectores vulneráveis da população". Os iraquianos ouvidos pela RI expressaram o desejo de que a ONU regresse e funcione plenamente no país. "Visitamos grupos de refugiados em condições de vida deploráveis, e ainda não foram registados pelo Ministério de Refugiados e Migração. Ainda não haviam recebido nenhuma assistência de agências da ONU", disse Bacon.

Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), apenas 50 mil famílias regressaram até agora, a maioria para Bagdad, e apenas 8% eram refugiados em países vizinhos. A OIM também indicou que 61% dos 2,6 milhões de refugiados internos 1,5 milhão nessa condição desde Fevereiro de 2006 querem voltar para suas casas, mas não se sentem capazes de fazê-lo. O Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) informou que ajudou 780 pessoas a regressarem da Jordânia e da Síria desde Outubro, e que não tem planos de dar assistência a retornos em grande escala num futuro próximo.

O estudo do Acnur indica que os recentes choques em Diyala, Mosul, Basra e Bagdad demonstram que a situação ainda é muito instável e violenta para que os refugiados retornem. A maioria dos que retornaram da Síria não pode instalar -se nas suas casas, pois voltaram a ser atacados, e tiveram de mudar para outras áreas. Muitos encontraram as suas casas ocupadas por outras famílias e sem poder recuperá-las. "Não estão convencidos de que o retorno é sustentável. A maioria dos refugiados está à espera", disse ao jornal The Washington Times o representante do Acnur na Jordânia, Imran Riza. "Por isso não voltam definitivamente. Os números são relativamente baixos. Os que desejam voltar devem informar-se com familiares ou conhecidos quais são as possibilidades", explicou.

Muitos refugiados internos estão desempregados, sem acesso à ajuda alimentar, vivem em condições esquálidas, carecem de recursos e enfrentam grandes dificuldades para contar com serviços básicos, afirma o relatório da RI. Segundo esta organização, o governo iraquiano não tem vontade nem capacidade para atender as necessidades dos refugiados, embora conte com grande quantidade de dinheiro, o que reduz a sua credibilidade diante do público. Enquanto isso, a comunidade internacional é lenta para responder por considerar que se trata de um problema dos Estados Unidos.

"Muitos governos doadores foram reticentes em participar da assistência aos refugiados, pois acreditam que Washington e Bagdad devem pagar a maior parte da conta", disse no ano passado Roberta Cohen num relatório da norte-americana Instituição Brokings intitulado "Iraq's Displaced: Where to Turn?" A "principal razão para esta crise não receber a atenção que merece é porque não vemos os iraquianos a viver em acampamentos de refugiados", disse em Março numa conferência o legislador norte-americano Alcee L. Hastings. "São uma população espalhada por cidades como Aman, Damasco, Cairo e Beirute. Isto faz com que a crise humanitária seja virtualmente invisível para a comunidade internacional", acrescentou.

20/4/2009

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