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Indígenas em defesa da Mãe Terra

A Conferência Mundial dos Povos sobre Mudança Climática e os Direitos da Mãe Terra começa dia 19 na Bolívia. Ao contrário de Copenhaga, a voz das nações indígenas será ouvida. Artigo de Franz Chávez, da IPS.

A Conferência de Cochabamba decorre de 19 a 22 de Abril. Foto foxtwo/FlickrA Conferência Mundial dos Povos sobre Mudança Climática e os Direitos da Mãe Terra começa dia 19 na Bolívia. Ao contrário de Copenhaga, a voz das nações indígenas será ouvida. Artigo de Franz Chávez, da IPS.

 

O seu conhecimento ancestral e tradições serão as contribuições das nações indígenas ao debate da Conferência Mundial dos Povos sobre Mudança Climática e os Direitos da Mãe Terra, que começará no dia 19, na cidade boliviana de Cochabamba, afirmam analistas.

“Os 74 povos indígenas da região amazónica têm por costume conviver com a natureza e as florestas, e os países industrializados devem reverter a contaminação”, disse à IPS o secretário de Saúde da Confederação de Povos Indígenas do Oriente Boliviano (Cidob), Julio Quette.

Por sua vez, a directora-executiva da Liga de Defesa do Meio Ambiente (Lidema), Jenny Gruenberger, afirmou à IPS que “a Bolívia poderia dar grande contribuição a partir dos conhecimentos tradicionais das nações indígenas e originárias que formam o Estado Plurinacional”.

A Conferência Mundial, que terá sessões em Tiquipaya, distrito vizinho de Cochabamba, abrirá o debate em 17 mesas de trabalho que compreendem a análise das causas estruturais da mudança climática. Outros assuntos vinculados ao encontro são harmonia com a natureza, direitos da Mãe Terra, Referendo, Tribunal de Justiça Climática, migrantes climáticos, povos indígenas, dívida climática, visão compartilhada, Protocolo de Kyoto, adaptação, financiamento, desenvolvimento e transferência de tecnologia. As organizações sociais debaterão sobre a redução das florestas, os perigos do mercado de carbono, as estratégias de acção, agricultura e soberania alimentar.

O presidente da Bolívia, o indígena aymara Evo Morales, informou a presença de seus colegas Daniel Ortega, da Nicarágua, Rafael Correa, do Equador, Hugo Chávez, da Venezuela, e Fernando Lugo, do Paraguai. Cerca de 12 mil pessoas procedentes dos cinco continentes se registraram como participantes das mesas de discussão. Entre as personalidades que estarão em Cochabamba anunciadas pela chancelaria boliviana estão o presidente da Assembleia Constituinte do Equador, Alberto Acosta, o ex-presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, o nicaraguense Miguel D’Escoto, e o brasileiro Edigio Brunetto, do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra.

“As organizações e os governos latino-americanos poderiam adquirir toda a capacidade que requerem diante da influência das nações industrializadas e se converter em um polo de resistência ao modelo desenvolvimentista, mas antes é preciso chegar a uma posição única”, disse à IPS o coordenador de pesquisa da Lidema, Marco Ribera. O especialista considera oportuno superar os “diferentes interesses” que os países impulsionam por seu lado, e depositar suas expectativas no fórum de Cochabamba para construir “propostas técnico-políticas fortes, altamente legitimadas, para negociar na XVI Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática”.

Para Ribera, o encontro de Cochabamba se converterá em uma nova forma de luta pelo planeta, pelas oportunidades que os povos têm para expressar suas propostas, “o que não lhes é dado pelos espaços oficiais de negociação internacionais”. Antes da abertura do fórum, os debates e as propostas surgem para promovê-las no cenário internacional e uma delas é a campanha pelo uso de combustíveis limpos sugerida à IPS pelo analista em assuntos energéticos, Justo Zapata.

A Bolívia conta com a segunda maior reserva de gás da América, com volume provado e provável de 49 trilhões de pés cúbicos, mas a população continua consumindo gasolina, gás liquefeito e combustível para motores diesel em abundância, enquanto o governo gasta anualmente cerca de US$ 500 milhões para subvencionar preços baixos, questiona o especialista. A Venezuela fornece óleo combustível e gasolina, produtos altamente contaminantes, enquanto os habitantes de São Paulo, no Brasil, desfrutam do gás natural limpo que a Bolívia exporta, disse Zapata.

Trata-se de uma defesa económica e ambiental, afirma o analista, que reclama acções de grande alcance com a construção de tubulações internas para beneficiar a população e deixar de lado a política do modelo neoliberal de privilegiar a exportação antes do mercado interno.


 

Página web da Conferência.  

Artigo IPS/Envolverde

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