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Guantanamo: Bush sabia dos presos inocentes

Um assessor de Colin Powell acusa o ex-presidente dos EUA de não libertar a maioria dos detidos para não prejudicar a preparação da guerra, mesmo sabendo da sua inocência.

Bush, Cheeney e Rumsfeld receavam o risco político de libertar inocentes de Guantanamo. Foto Beverly & Pack/FlickrUm assessor de Colin Powell acusa o ex-presidente dos EUA de não libertar a maioria dos detidos para não prejudicar a preparação da guerra, mesmo sabendo da sua inocência.

 

O jornal "Times" diz que o coronel Lawrence Wilkerson, antigo chefe de gabinete de Colin Powell quando este liderava o Departamento de Estado, testemunhou num processo interposto por um dos detidos na prisão de Guantanamo. É a primeira vez que um alto responsável da administração Bush implica o presidente, o seu vice Dick Cheeney e o secretário da Defesa Donald Rumsfeld na decisão de não libertar os presos que se sabia não terem cometido crimes.

Wilkerson diz que em 2002, a maioria dos 742 detidos que foram os primeiros a chegar à prisão ilegal de Guantanamo - com idades entre os 12 e os 93 anos - estavam inocentes, e não foram presos pelos norte-americanos, tendo sido capturados por afegãos e paquistaneses e entregues às tropas dos EUA a troco de dinheiro, nunca tendo sido produzida qualquer prova de crime ou mesmo o motivo da sua captura.

"Eu discuti o assunto dos presos de Guantanamo com o secretário Powell. Percebi que na opinião dele não eram apenas o vice-presidente Cheney e o secretário Rumsfeld, também o presidente Bush estava envolvido em todo o processo de decisão sobre Guantanamo", afirmou Wilkerson, citado pelo "Times".

Wilkerson, que serviu mais de 30 anos no exército norte-americano, diz que para a administração Bush "era politicamente impossível libertá-los", porque "os esforços para as detenções revelar-se-ia como a operação incrivelmente confusa que realmente foi".

Quanto à posição de Cheeney, o militar diz que "ele não tinha a mínima preocupação com o facto da grande maioria dos detidos em Guantanamo estarem inocentes… Se centenas de pessoas inocentes tivessem que sofrer para que alguns terroristas hardcore fossem apanhados, pois que assim fosse". Nessa altura, os EUA precisavam de encontrar elementos que provassem a ligação de Saddam Hussein e os atentados do 11 de Setembro, "justificando assim os planos da Administração para a guerra" com o Iraque.

Um porta-voz do ex-presidente diz que Bush não fará comentários sobre as declarações de Wilkerson. O Times não obteve resposta de Dick Cheney e uma fonte próxima de Donald Rumsfeld negou as acusações, acrescentando que o antigo secretário da Defesa sempre tentou manter o mínimo de presos possível em Guantanamo.

O processo contra um conjunto de oficiais norte-americanos foi interposto por Adel Hassan Hamad, um sudanês que alega ter sido torturado por diversas vezes durante os anos em que esteve ali detido, entre Março de 2003 e Dezembro de 2007.

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