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Fantasmas da crise assolam Davos

Logotipo do Fórum de DavosO Fórum Económico Mundial que se reúne a partir desta quarta-feira na cidade suíça de Davos é uma imagem da crise económica e financeira que assola o planeta. Outrora considerado uma espécie de oráculo, as suas profecias apenas serviram para empurrar o capitalismo a caminho do abismo. Muitas das suas estrelas empresariais foram despedidas, alguns estão na prisão e um suicidou-se. As novas estrelas são os governos russo e chinês.

"Esta é a maior crise económica desde que Davos começou", reconhece o seu fundador, Klaus Schwab. Professor de economia de ascendência alemã que fundou o Fórum que reunia a nata do capitalismo mundial a partir de 1971, Schwab reconhece hoje, pragmaticamente, que "o pêndulo oscilou e o poder voltou aos governos".

Antes, frequentavam os salões da estância de Inverno suíça nomes como John Thain. Principal executivo do banco Merril Lynch, foi chefe da New York Stock Exchange. Depois de ter conduzido o banco ao naufrágio e despedido milhares de funcionários, ainda tentou receber uma gratificação extra de 30 milhões de dólares, lembra o diário italiano La Repubblica. E ainda gastou 1,2 milhão para redecorar o seu escritório. Quando foi divulgado o último rombo no balanço, estava a esquiar em Vail, Colorado. Se não tivesse sido despedido na semana passada, seria de novo um dos principais oradores de Davos.

Outras estrelas cadentes que deixaram de figurar na lista dos oradores de Davos são o ex-ministro de Bill Clinton Robert Rubin, despedido do Citigroup, Huang Guangyu, patrão do conglomerado chinês Gome, que acabou na prisão, o alemão Adolf Merckle, que se suicidou, o indiano Ramalinda Raju, que no Fórum de 2007 comandava uma enorme campanha publicitária sobre a "incrível Índia" e hoje não pode viajar, por lhe ter sido retirado o passaporte devido a suspeitas de ter alterado fraudulentamente o balanço da sua empresa Statyam Computer Services.

Uma verdadeira galeria de fantasmas que assola Davos.

As estrelas do show business também acharam mais prudente não comparecer. Bono, dos U-2, prefere fazer o lançamento do seu novo CD, e a actriz Angelina Jolie tem outros compromissos. Davos perdeu o glamour.

Também perdeu parte dos seus patrocinadores, como o falido Lehman Brothers. Por isso chegou a hora de economizar. Claro que, quando se trata de Davos, a palavra economia é relativa. O New York Times dá um exemplo: a BB Heli de Zurich, que leva os convidados para Davos de helicóptero, disponibilizou aparelhos menos confortáveis e mais lentos que permitem cobrar 4.250 dólares pela viagem até à montanha, em vez dos 8.500 que custava uma viagem mais rápida de um aparelho de duas hélices.

O grupo de imprensa alemão Burda, que já levou ao Fórum as modelos Claudia Schiffer e Naomi Campbell, decidiu cancelar esses contratos e concentrar-se em tubarões da indústria e da finança que não tenham afundado.

"As pessoas estão a reavaliar o que fazem em Davos e os organizadores encorajaram a sobriedade e querem focar-se na crise", disse ao NYT Marcel Reichart, do Burda.

Assim, as estrelas deste ano são o primeiro-ministro britânico Gordon Brown, o chinês Wen Jiabao, e o russo Vladimir junto com a alemã Angela Merkel. Barack Obama mandou dizer que tem mais que fazer, e Lawrence H. Summers, director Conselho Económico da Casa Branca, também declinou o convite. Da Casa Branca só vai, assim, uma conselheira, Valerie Jarrett.

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